Distribuição de psicofármacos em Brumadinho cresce e revela graves impactos psicológicos do desastre da Vale

A quantidade de psicofármacos controlados distribuídos pela Central de Abastecimento Farmacêutico de Brumadinho é um termômetro dos impactos psicológicos, emocionais e sociais do desastre causado pelo rompimento da barragem da mineradora Vale, em janeiro de 2019. Em 2022, já foram prescritas 82.237 caixas, frascos ou ampolas de medicamentos indicados para depressão e ansiedade no município, número que aumentou para 105.459 até agosto de 2023.

De acordo com o secretário-adjunto de Saúde, Rander Alves, a quantidade fornecida pela farmácia municipal de remédios para ansiedade, depressão e tratamento de alcoolismo e dependência de entorpecentes aumentou em mais de 50% nos últimos anos. “Temos uma população adoecida. Depois dessa tragédia-crime, todos precisam de acompanhamento cuidadoso da saúde mental”, constata o gestor público.

A tragédia marcou a vida das crianças e adolescentes de Brumadinho. Na escola Semear, 45 dos 100 órfãos do desastre estão matriculados. A psicóloga Jackeline Parreiras afirma que muitos ainda não conseguiram trabalhar o luto. Para lidar com o trauma coletivo, a escola lançou mão de cuidados em celebrações como Dia das Mães e Dia dos Pais. “Com o olhar para essa dor, implantamos o projeto ‘Homenagem a quem tanto amo’. Cada aluno traz a pessoa de referência no contexto familiar atual”, conta a diretora Tânia Campos.

A comunidade escolar enfrenta desafios com impactos nos estudantes, nas famílias e na equipe. A coordenadora pedagógica Maíra Viterbo ressalta a necessidade de entendimento e solidariedade para lidar com o cenário de adoecimento.

A rede de atenção psicossocial de Brumadinho viu também um aumento no número de pacientes com transtorno pós-traumático. Em 2022, 1.090 pacientes com quadro de ansiedade e 1.857 de depressão foram atendidos na região. Fátima Vieira, moradora do distrito de Tejuco, relata a tristeza e a depressão que sente como consequência da morte de um sobrinho que considerava como filho. Ela é uma das muitas pessoas afetadas no local.

A pesquisa realizada pela Fiocruz Minas e UFRJ, que avaliou as condições de vida, saúde e trabalho da população após o desastre, identificou a exposição aos metais, mas não intoxicação. Entre os adultos, foram observados níveis aumentados de arsênio em 33,7% e manganês em 37%. Já entre os adolescentes, 28,9% estão com arsênio total na urina acima dos limites de referência, assim como apresentaram níveis alterados de manganês (52,3%) e chumbo (12,2%) no sangue.

No entanto, a Vale alega que tem atuado com programas de assistência e recursos para a assistência de saúde e psicossocial. A empresa tem destinado verbas e equipamentos para o Complexo Hospitalar de Brumadinho e para projetos de saúde na região. A Vale também comprou imóveis para a criação do Parque Ferro Carvão, que unirá as comunidades locais, além de ter compromissos ambientais para a recomposição florestal. Mas ainda assim, a população de Brumadinho sofre com as sequelas e o luto de uma tragédia que continua a impactar suas vidas diariamente.

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