Nascida em uma família de cinco irmãos, Célia foi a única a ter seu sobrenome registrado com uma letra dobrada, devido a um erro no cartório. Sua infância foi em uma chácara, onde além de brincar, cantava enquanto alimentava as galinhas. Foi nessa época que um tio, poeta e dono do jornal da cidade, ouviu seu talento e a convidou para aprender técnicas de canto.
Durante sua juventude, a talentosa cantora se mudou com a família para uma casa no centro da cidade e se apresentava em eventos locais, como casamentos e aniversários. Além de cantar, Célia também se tornou professora de datilografia e era conhecida como a “Dama da rua Costa Pinto”.
Uma oportunidade de seguir carreira no Rio de Janeiro foi-lhe oferecida, mas não foi concretizada devido à opinião do pai, que acreditava que não era uma profissão adequada para “moças de família”. Sempre generosa, Célia ajudava sobrinhos e parentes, e chegou a escrever uma carta para o então presidente Getúlio Vargas, pedindo bolsa de estudos para uma afilhada.
Após se casar, Célia se mudou para Salvador, onde a vida ao lado de um marido ciumento a fez abandonar os palcos. Uma tragédia em 1972, onde perdeu seu filho e seu pai em um acidente de carro, a levou a enfrentar uma profunda depressão.
Célia mudou-se para São Paulo, onde aprendeu a tocar violão e fez amigos que a ajudaram a superar a medicação. Após voltar para Bahia e viver na mesma casa onde cresceu, ficou viúva e acabou por necessitar de cuidados, mudando-se para um lar de idosos.
Lá, a forte personalidade de Célia permaneceu, brigando por seus direitos e encantando colegas de lar com suas músicas. Seus últimos anos foram marcados por problemas de saúde, quedas e a dificuldade de locomoção, mas a memória e a paixão pela música permaneceram.
Aos 91 anos, lançou seu primeiro CD, “Canções de Saudade”, interpretando músicas de seu tio poeta. Devota de Santa Terezinha, mantinha uma imagem da santa ao lado de sua cama e conversava com ela como se fosse uma pessoa. No último dia 6 de dezembro, Célia faleceu aos 95 anos, vítima de uma infecção generalizada.
Seu velório contou com a despedida de cantoras locais e ela deixa mais de dez sobrinhos e muitos amigos. Célia Senna, a voz que emocionou gerações em Senhor do Bonfim, deixa um legado de música e generosidade.