Invasão a palácios em Brasília completa um ano: o perigo do mito e a nova civilidade do governo Lula.

Há um ano, testemunhamos com espanto a invasão e destruição dos palácios do Planalto, do Congresso e do STF em Brasília. Um ato de terror que pairava sobre as eleições de 2022, denunciado insistentemente. A campanha não era apenas contra um único líder, mas contra qualquer pessoa que propusesse essa impostura, desobrigando seus seguidores de assumirem responsabilidade por seus atos.

A filósofa Hannah Arendt e o psicanalista Contardo Calligaris, em um livro lançado postumamente, discutem o ideal nazifascista, apresentando o burocrata como figura comum e temível desse regime, já que justifica atos violentos como necessários, sob as ordens de alguém que considera superior. Este tipo de alienação, no entanto, convive com o sujeito anônimo que se mistura à massa, dando vazão aos seus impulsos reprimidos e sendo capaz de realizar atos de violência sem hesitação.

Por outro lado, temos o psicopata, o sádico serial, que não se enquadra nessas formas de alienação à massa. Ele está no comando, possui método e não sente culpa, não por se alienar ao desejo do outro, mas porque esse sentimento simplesmente não faz parte de seu repertório. Este indivíduo busca a criação caos e terror, em oposição à disciplina pregada pelo regime militar, por exemplo.

A transformação de outra pessoa em um mito é uma forma de evitar o desamparo estrutural e encarar as próprias angústias. O presidencialismo se presta a criar mitos, revelando que o sonho de realeza nunca foi completamente superado. O culto à figura presidencial pode ser direcionado a qualquer indivíduo, até mesmo um pneu de caminhão.

Após um ano de seu governo, há a necessidade de uma oposição inteligente que aponte as falhas e limitações, evitando cair na lógica do mito. É fundamental não repetir o erro de obedecer sem reflexão e responsabilidade. A situação das comunidades indígenas permanece calamitosa, com a volta dos garimpeiros e uma série de problemas de saúde causados pelo contato com mercúrio.

As boas intenções sem um diálogo direto com essas comunidades indígenas e ribeirinhas é um vício dos que querem fazer o bem, mas se esquecem de escutar a parte interessada. O governo Lula representa um avanço em muitos aspectos, mas a falta de crítica pode levar à criação de um culto em torno de sua figura. Portanto, é essencial que haja uma reflexão crítica, pois o governo que não pode ser criticado se torna culto.

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