Na EMEI Dona Leopoldina, localizada na zona oeste de São Paulo, as crianças têm voz ativa na gestão da escola. Em uma reunião, um pai questionou a demora para a decisão sobre o dia do brinquedo, e a então diretora, Marcia Harmbach, explicou que o conselho mirim estava deliberando sobre o assunto. Esse conselho é composto por alunos de 4 a 6 anos que foram escolhidos pelos colegas e professoras para participar da gestão escolar, mostrando um modelo de gestão focado na participação e na democracia.
Durante a reunião, o assunto em questão envolvia desafios sobre a partilha de brinquedos, o que gerava frustração entre os alunos. Sentados em círculo, os conselheiros expressaram seus sentimentos com mediação de uma professora e chegaram a uma solução – trazer apenas brinquedos feitos com elementos da natureza ou material escolar. Essa ideia foi sugerida por uma das crianças e foi apoiada pelos outros representantes mirins. Após ser compartilhada com o conselho da escola, virou regra.
O modelo de gestão foi criado por Harmbach, que organizou essas experiências no livro “Gestão Democrática”. A educadora se inspirou em Paulo Freire para criar os conselhos mirins, partindo do princípio de que não é possível construir uma escola democrática sem a participação de todos que atuam nela, incluindo as crianças.
A EMEI Dona Leopoldina se tornou uma escola-modelo, vencendo oito prêmios pelo projeto político pedagógico centrado na escuta ativa dos pequenos pelo conselho mirim. Até mesmo a infraestrutura escolar se beneficiou com ideias das crianças, como a contribuição para o parque.
Apesar dos resultados positivos, a implantação desse modelo enfrentou desafios, principalmente por parte dos adultos. No entanto, Harmbach ressalta a importância da participação efetiva das crianças na gestão da escola, enfatizando a construção da autonomia ao pensar e organizar suas ideias.
A nova diretora, Aline Neves, pretende retomar o modelo dos conselhos mirins na escola, mantendo os hábitos de escuta ativa instituídos por Harmbach. A experiência na EMEI Dona Leopoldina demonstra que a participação das crianças na gestão escolar pode ser um caminho para a construção de uma escola mais democrática e efetiva no processo de ensino-aprendizagem.