O pároco é alvo da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das ONGs, que deve ser instalada a partir de fevereiro na Câmara Municipal de São Paulo e pretende investigar organizações que atuam na região da cracolândia, no centro da capital. Sua criação é de autoria do vereador Rubinho Nunes (União Brasil).
A proposta de moção junto à Câmara dos Deputados é encabeçada por Guilherme Boulos (PSOL-SP), líder de seu partido na Casa e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo. O texto é endossado pelos deputados da bancada do PSOL e por Túlio Gadelha (Rede-PE).
Em sua justificativa para a iniciativa, o parlamentar parte do pressuposto de que a criação da CPI busca atacar uma figura de “reputação ilibada” que jamais foi alvo de “denúncia de enriquecimento ilícito ou algo semelhante”.
O requerimento sugere que Rubinho Nunes tem motivações político-eleitorais ao propor a instalação da comissão e cita suas ligações com o MBL (Movimento Brasil Livre), movimento que tem o pároco como um de seus alvos preferenciais e já foi integrado pelo vereador do União Brasil.
Os signatários do requerimento propõem que seja lido no plenário da Câmara um texto que enalteça o “trabalho de cuidado com pessoas em situação de rua e dependência química, realizado pela Pastoral da Rua, da Arquidiocese de São Paulo”, por meio da figura de Lancellotti, e critique “acusações infundadas” feitas por Rubinho, que já usou o termo “máfia da miséria” para se referir ao trabalho social.
Ao comentar críticas feitas à CPI, Rubinho Nunes disse à coluna que “todos podem ser investigados” e que o pároco “não é a Arquidiocese, tampouco a Igreja Católica”. “Não vou recuar de maneira alguma”, completou.
O vereador pretende investigar o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, conhecida como Bompar, e o coletivo Craco Resiste. Ambos atuam junto à população em situação de rua e a dependentes químicos da região central da cidade, assim como o padre Júlio.
Como mostrou o Painel, a Arquidiocese de São Paulo disse na noite de quarta (3) que acompanha a ofensiva “com perplexidade”.
“Na qualidade de Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua, Padre Júlio exerce o importante trabalho de coordenação, articulação e animação dos vários serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade”, afirmou o órgão da Igreja Católica.
A proposta de moção de solidariedade ao padre Júlio Lancellotti, apesar de gerar polêmica e divergências, destaca a importância do trabalho social realizado pelo religioso e almeja proteger sua figura de possíveis ataques políticos motivados por interesses partidários.