Uma ata da Câmara Municipal de São Paulo, de 20 de junho de 1832, mostra que a chácara do Quebra-Bunda de fato existiu, mas não comprova a prática de torturas em suas dependências.
Localizada no morro do Telégrafo, onde havia uma torre, a chácara do Quebra-Bunda funcionou no período em que São Paulo vivia o auge do ciclo do café. Enquanto a escravidão ainda vigorava, a cidade se modernizava, ganhando ares europeus e seus dirigentes queriam passar a imagem de uma metrópole moderna, que não compactuava com a barbárie dos castigos nos escravizados em praça pública, à vista de todos.
O jornalista Ernani Silva Bruno, em seu livro “Historia e Tradições da Cidade de São Paulo”, traz detalhes sobre o que acontecia nas propriedades clandestinas de castigos aos escravizados. Ele descreve que para disciplinar os escravos, eram aplicadas surras ou açoites, gratuitamente e por amizade aos respectivos senhores, ou mediante o pagamento de qualquer quantia aos proprietários.
A chácara do Quebra-Bunda pertencia ao comerciante José Veloso de Oliveira, que, pelo que se sabe, engordava seu orçamento com estes “serviços” prestados. Além disso, a ata da câmara mostra que o local foi escolhido para guardar a pólvora da Fazenda Nacional.
A descoberta da chácara do Quebra-Bunda traz avanços para reflexões futuras, pois nos ensina sobre tensões e desigualdades do passado, muitas das quais ainda não resolvidas no presente e que precisam ser enfrentadas. Este é um importante ponto de memória que desafia a história conservadora e branca, mostrando que há muito a ser aprendido com locais que guardam memórias traumáticas.