De acordo com a historiadora Wania Sant’Anna, conselheira do CEDRA (Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdade Raciais) e integrante da Coalizão Negra por Direitos, esse aumento na autodeclaração está relacionado ao aumento da valorização da identidade negra. Sant’Anna ressalta que essa mudança é observada em todas as faixas etárias, indicando que não se trata apenas de um modismo, mas sim de uma mudança genuína na percepção das pessoas sobre sua origem.
Comparando o Censo atual com o do passado, foi observado um maior aumento da população preta na faixa etária de 30 a 44 anos, enquanto o crescimento da população parda ocorreu entre pessoas de 45 a 59 anos. Esses números refletem uma maior aceitação e conforto das pessoas em relação à sua identificação étnico-racial.
O aumento da autodeclaração preta e parda pode ser atribuído, em parte, a campanhas e movimentos sociais realizados nas últimas décadas. Sant’Anna destaca a campanha “Não deixe sua cor passar em branco”, realizada nos anos 1990, que visava conscientizar a população afrodescendente sobre a importância da autoidentificação e contribuir para a construção de indicadores nacionais sobre as condições socioeconômicas dessas populações.
Desde a realização dessa campanha, a população preta vem crescendo de forma gradativa, demonstrando a eficácia das ações promovidas para valorização da identidade negra. A historiadora ressalta a importância desses dados para o direcionamento de políticas públicas e privadas, além de apontar a relevância da população negra como consumidora e base da economia brasileira.
Os resultados do Censo 2022 refletem, portanto, não apenas uma mudança na autodeclaração étnico-racial da população brasileira, mas também um avanço significativo no reconhecimento e valorização da identidade negra, enfatizando a importância de políticas e ações que promovam a igualdade e a inclusão.