O pensamento olímpico na educação brasileira: como privilegia os melhores alunos e deixa a maioria para trás

A Educação no Brasil tem sido tema de muitas discussões e críticas. Dessa vez, o pedagogo Ocimar Munhoz Alavarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), juntamente com o Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional (Gepave), chegou à conclusão de que a Educação no país é destinada a privilegiar os “melhores” estudantes, em detrimento da democratização do ensino.

Para Alavarse, esse comportamento reflete uma postura denominada “pensamento olímpico”, em que os alunos são educados para serem os “campeões”, e as necessidades da maioria dos estudantes são negligenciadas. A preocupação está em avaliar se a Educação pretende formar apenas alguns alunos brilhantes ou garantir que todos atinjam um patamar mínimo de habilidades.

Essa visão discriminatória e seletiva está enraizada nas práticas de muitos professores, diretores, gestores escolares e políticos, mesmo que não seja oficialmente parte da política educacional do país. Alavarse destaca que essa mentalidade olímpica acaba premiando os alunos considerados “bons”, enquanto deixa de lado os estudantes com mais dificuldades.

Essa realidade foi corroborada pelos resultados do Pisa de 2022, que apontou que 70% dos alunos brasileiros não demonstraram ter as habilidades mínimas em Matemática, e mais de 50% não atingiram o patamar mínimo de leitura e de ciências. Para o pesquisador, é uma postura equivocada premiar professores conforme o desempenho dos alunos, sem fornecer as condições mínimas de trabalho e estrutura para o ensino.

Outro ponto levantado é que avaliações externas têm sido utilizadas de forma seletiva, com escolas particulares selecionando os “melhores” alunos para participar de provas e criarem salas especiais de ensino avançado. No entanto, a coordenadora pedagógica Vera Lúcia da Costa Antunes argumenta que essa divisão por níveis de habilidades permite atender as necessidades individuais de cada aluno.

O Ministério da Educação respondeu às críticas afirmando que está tomando medidas para melhorar a qualidade da educação básica, garantir a alfabetização de todos na idade certa e atratividade da escola, e melhorar a formação continuada dos professores.

Alavarse enfatiza que o problema não está nas avaliações em si, mas na forma como os resultados são interpretados, destacando a importância de entender as necessidades e agir para garantir o sucesso de todos. Ele ainda ressalta que é preciso abandonar a cultura que aceita o sucesso de alguns alunos em detrimento do baixo desempenho de outros, visando um sistema equitativo que assegure oportunidades para todos.

Portanto, as questões pedagógicas e estruturais precisam ser abordadas em conjunto, com investimento adequado e uma mudança na mentalidade educacional, visando a igualdade de resultados para todos os alunos. O objetivo é garantir que todos partam do mesmo patamar, minimizando as diferenças e desigualdades que afetam o desempenho escolar dos estudantes.

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