Crise de saúde causada por incêndios na Amazônia afeta moradores de Santarém, Pará, com aumento nos atendimentos médicos e impactos na qualidade do ar.

Médicos da Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Livramento, em Santarém, principal centro urbano, financeiro, comercial e cultural do oeste do Pará, têm observado um aumento nos atendimentos nos últimos meses devido à inalação de fumaça. Os pacientes relatam dificuldades respiratórias, tosse, alergias e até lesões na pele. O médico Oziel Mendes Oliveira informou que a maioria dos atendimentos é de idosos e crianças.

Segundo a plataforma World Air Quality Index, em 2 de novembro, Santarém estava com um dos piores índices globais, com 301 microgramas de poluentes por metro cúbico. No entanto, após o início das chuvas, os números já diminuíram, o que, segundo os médicos, deverá refletir na saúde da população nas próximas semanas. A Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) informou que de 1º de outubro a 1º de dezembro, as UBSs registraram 1.335 atendimentos de casos de síndromes respiratórias relacionadas à inalação de fumaça, e a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) prestou assistência a 19 pacientes desde 4 de novembro.

No entanto, o médico plantonista Abrãao Gualberto, da UPA 24h, afirma que percebeu um considerável aumento de casos com queixas relacionadas à ação tóxica da fumaça nos últimos meses, principalmente relacionadas ao sistema respiratório, como tosse, falta de ar, chiado no peito, irritação de garganta e lacrimejamento dos olhos.

Moradores também têm sentido os efeitos da inalação de fumaça. Carmén Lithiner, moradora da comunidade Caranazal, explicou que teve que aumentar as doses dos remédios para controle de crises asmáticas devido ao fenômeno. Os médicos recomendam reforço na hidratação diária, manter as casas arejadas e procurar assistência médica em caso de tosse persistente ou dificuldade respiratória.

As queimadas na região são resultado da ação humana, segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Santarém. Diversas áreas nos municípios vizinhos e fazendas na região formavam focos de incêndio ao redor da Floresta Nacional do Tapajós, o que causa grande impacto na saúde da população. A fumaça é transportada pela ação dos ventos alísios, que sopraram dos trópicos em direção ao Equador e dos trópicos em direção aos polos.

A pesquisadora Erika Berenguer, da Universidade de Oxford, ressalta que os incêndios na Amazônia podem ser prevenidos com ações como a divulgação dos dados oficiais e a criação de um fundo emergencial climático para a região. A cientista também sugere a implementação de uma “bolsa defeso florestal” para populações que dependem do fogo para sua segurança alimentar.

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