“Gambé”: o novo romance de Fred Di Giacomo Rocha retrata a brutalidade do policial Tenente Galinha no sertão paulista do século 19.

O oeste paulista do século 19 era considerado um “sertão desconhecido habitado por índios” na cartografia da época. No entanto, rapidamente essa visão mudou, com a região sendo tomada por fazendeiros, capangas e bugreiros, além de ser atravessada pelos trilhos da locomotiva paulista. Uma terra de conflitos, onde cada indivíduo carregava consigo um seguro preso na cintura para resolver conflitos e vinganças.

Nesse cenário, surge a figura da Captura, uma tropa da recém-criada Força Pública, liderada pelo temido Tenente Galinha, conhecido como o “demônio loiro”. Os métodos brutais desse pelotão se tornaram conhecidos e temidos na região, inspirando o jornalista e escritor Fred Di Giacomo Rocha a criar seu segundo romance, “Gambé”, recentemente lançado pela Companhia das Letras.

Parte do enredo do livro é inspirado nas histórias reais da atuação violenta da Captura no oeste paulista, trazendo à tona a violência do Estado como uma força fundadora da nação brasileira. O antagonista do livro, Tenente Galinha, retrata a brutalidade e a hostilidade do cotidiano na região, enquanto o personagem título, Gambé, é um herói marcado pela violência do Brasil sem lei.

A história de Gambé, um policial nascido em Mato Grosso, é permeada por temas como racismo, injustiça e pobreza extrema, trazendo à tona questões contemporâneas relacionadas à masculinidade. O autor busca conciliar referências diversas, desde a poesia de Manoel de Barros até a estética engajada de Glauber Rocha, para criar um enredo cheio de reviravoltas e reflexões sobre a história, ficção e biografia de um Brasil que pode ser passado, presente ou futuro.

A brutalidade e a realidade das ações da Captura acabam expondo a face mais sombria da sociedade brasileira, trazendo à tona a necessidade de reflexão sobre temas tão presentes na história do país. Com uma prosa poética e potente, o livro de Fred Di Giacomo Rocha busca trazer à tona os conflitos e a violência do oeste paulista do século 19, denunciando a brutalidade do Estado e as cicatrizes deixadas em uma nação em formação.

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