A escolha de Aline para entregar a faixa presidencial simbolizou a representatividade da maior parcela demográfica do país, as mulheres negras. A leitura nas manchetes no dia seguinte ressaltou que Lula havia recebido a faixa “pelas mãos do povo brasileiro”, sinalizando um entendimento por parte do presidente de que as mulheres negras representam o suprassumo da população brasileira.
Diante desse momento histórico, cresceu a esperança de que a gestão de Lula seria verdadeiramente progressista e democrática, atendendo às necessidades históricas da população negra, conforme expresso pelo Movimento Mulheres Negras Decidem para 2023. O grupo se dedicou a reflexões e ações em torno da sub-representação de mulheres negras nos espaços de tomada de decisão, incluindo a pauta central do ano: as indicações de Lula ao Supremo Tribunal Federal (STF). Uma campanha nacional foi empreendida em defesa da inclusão de uma jurista negra na mais alta instância jurídica do país.
No entanto, onze meses após a posse de Lula, as expectativas iniciais se tornaram desgosto. As duas indicações do presidente ao STF não contemplaram a inclusão de uma jurista negra gabaritada e comprometida com a democracia e os direitos humanos. O Movimento Mulheres Negras Decidem expressou sua decepção com a falta de compreensão de Lula, que recebeu apoio dos movimentos negros durante as eleições.
A campanha tinha como objetivo chamar a atenção para a necessidade de uma representação mais próxima da realidade brasileira no STF, levando em consideração raça e gênero. A população negra é a mais afetada por questões de segurança pública e pelo sistema judiciário racista, o que torna a presença de uma jurista negra crucial para a reestruturação do sistema.
Assim, o ano de 2023, que começou com esperanças de mudanças, termina com a sensação de desilusão para o Movimento Mulheres Negras Decidem. A falta de compreensão e representatividade no STF representa mais um obstáculo a ser superado em busca de um Brasil mais justo e igualitário para todos os seus cidadãos.