O Brasil está enfrentando um aumento preocupante nos casos de violência de gênero. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os casos de estupro e feminicídio aumentaram significativamente em 2022 em comparação com o ano anterior. Este ano, os números continuam subindo, com um pico alarmante de 2,6% nos casos de feminicídio nos primeiros seis meses de 2023. Esse crescimento é particularmente preocupante, já que o Brasil ainda está longe de alcançar o quinto objetivo de desenvolvimento sustentável estabelecido pela Agenda 2030 das Nações Unidas, que visa acabar com todas as formas de discriminação contra mulheres e meninas.
Os números são chocantes: 722 feminicídios foram registrados no primeiro semestre de 2023, o maior número da série histórica. Além disso, o relatório apontou um aumento nos casos de estupro, totalizando 34 mil casos em 2022, representando um aumento de 14,9%. A maioria das vítimas são mulheres em idade reprodutiva, com 71,9% das 1.437 mortes ocorrendo nesse grupo. Além disso, 61,1% das vítimas eram mulheres negras.
No entanto, esses números podem ser subnotificados devido às dificuldades dos tribunais e da polícia em classificar os casos. Além disso, fatores como o desfinanciamento de políticas de proteção às mulheres, a pandemia de Covid-19 que comprometeu os serviços de acolhimento de vítimas, e a ascensão de movimentos extremistas também são apontados como possíveis causas para o aumento da violência.
Em meio a essa preocupante escalada de violência, os especialistas enfatizam a importância do fortalecimento das políticas públicas para combater esse cenário. Wânia Pasinato, assessora sênior da ONU Mulheres, destaca a necessidade de uma abordagem abrangente que associe políticas de segurança pública e justiça com investimentos em educação, saúde, habitação e infraestrutura. Além disso, Pasinato ressalta a importância de combater estereótipos de gênero no sistema judiciário e de garantir o acesso das mulheres aos serviços de saúde e segurança.
No entanto, a situação permanece precária, com a falta de investimento em serviços especializados, como delegacias da mulher e casas de abrigo, representando um obstáculo significativo no combate à violência de gênero. Ainda há um longo caminho a percorrer para que o Brasil consiga reverter essa tendência preocupante e garantir a segurança e o bem-estar de todas as mulheres e meninas do país.