Lélia Gonzalez e a invisibilidade da história negra na literatura escolar são discutidas por antropóloga e filósofa.

Recentemente, em uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, a antropóloga e filósofa Lélia Gonzalez provocou uma reflexão sobre a invisibilidade da história negra nas escolas brasileiras. De acordo com a autora de “Lugar de Negro”, os livros oferecidos nas escolas brasileiras nunca trouxeram a contribuição das classes populares, da mulher, do negro ou dos indígenas na formação histórica e cultural da sociedade. Ela ainda enfatizou que, na verdade, o que se faz é folclorizar todos eles.

Entretanto, a arte tem exercido um papel fundamental no resgate da história negra e no combate ao racismo, sendo utilizada como um instrumento de empoderamento e aprendizado. A história negra, que por muito tempo foi invisibilizada, tem sido resgatada através de iniciativas que valorizam a cultura e a arte afro-brasileira.

O jornalista Francisco Lima Neto, autor das biografias “Luiz Gama” e “Laudelina Campos de Mello”, destacou que cresceu sem referências ancestrais e sem estudar a história da África na escola. Ao contar a história dessas pessoas, ele resgata partes de sua própria identidade, adquirindo autoestima e conhecimento. Esse resgate, segundo o jornalista, permite que ele se sinta curado e resgatado.

Francisco narra a história de Luiz Gama, um advogado sem diploma que utilizou as leis de sua época para libertar mais de 500 escravizados. Também destaca a atuação de Laudelina de Campos Mello, que lutou incansavelmente para que os direitos das empregadas domésticas fossem reconhecidos. A biografia da ativista antirracista foi lançada na última Bienal do Rio, que bateu recorde de vendas com 5,5 milhões de livros vendidos.

Esse recorde de vendas é destacado em um contexto em que os índices de leitura têm apresentado quedas consecutivas, principalmente entre a população negra. A falta de incentivo, o preço e a ausência de narrativas que contemplem a população negra são alguns dos fatores que contribuem para esse cenário.

No entanto, iniciativas como a coleção Black Power da editora Mostarda têm buscado preencher essa lacuna, oferecendo biografias de personalidades negras inspiradoras como Angela Davis, Lima Barreto, João Cândido, Conceição Evaristo, Maria Felipa, Sueli Carneiro, entre outros. Além disso, a coleção Kariri destaca personalidades indígenas notáveis, enquanto as coleções Meninas Sonhadoras e Mulheres Cientistas destacam mulheres inspiradoras. Parte dos livros também são acessíveis em braille, com ilustrações em relevo e fontes ampliadas, possibilitando maior acesso a essas narrativas.

Portanto, valorizar a história negra e dar visibilidade a essas narrativas contribui não apenas para o fortalecimento da identidade das novas gerações, mas também para o combate ao racismo e para a construção de uma sociedade mais inclusiva e equitativa. A literatura e a arte desempenham um papel fundamental nesse processo, oferecendo representatividade e empoderamento para aqueles que se reconhecem nessas narrativas.

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