A partir daí, o MNU assumiu um papel fundamental na denúncia da violência policial e na luta contra o mito da democracia racial no Brasil. Ao longo dos anos, a organização teve um papel crucial para o avanço do debate sobre a questão racial na sociedade brasileira.
No entanto, o olhar das grandes corporações e do mercado para a agenda antirracista também se ampliou. Empresas passaram a entender a importância de dialogar com essa pauta como forma de vender mais e garantir a adesão do público.
Entretanto, o mercado ainda segue sua lógica, contribuindo para a expansão da segurança privada no país. Esse cenário foi escancarado em 2020, quando João Alberto Freitas foi espancado até a morte por seguranças da Vector, empresa de segurança privada contratada pelo Carrefour.
Diante desse cenário, o movimento negro reagiu com indignação, organizando marchas e manifestações em várias cidades. O caso gerou uma enorme repercussão e trouxe à tona o debate sobre as ações antirracistas no Brasil.
O Carrefour, por sua vez, montou um Comitê Externo Independente e firmou um Termo de Ajustamento de Conduta de R$ 115 milhões, o maior da história para crimes raciais no país. Apesar disso, houve divergências dentro do movimento negro sobre a reação da empresa diante do caso.
Esse cenário trouxe à tona uma nova indagação para o movimento negro brasileiro: qual o caminho para enfrentar o racismo? Diante da violência, muitos ativistas da geração de 1978 acreditavam em um projeto marxista e revolucionário. As respostas atuais, no entanto, são moldadas por um contexto histórico diferente e pela presença cada vez mais marcante do mercado nas relações raciais.
Assim, a questão do relacionamento com o mercado e o projeto de nação arquitetado pelas organizações antirracistas no país se torna central, assim como a definição do que é ser antirracista. O debate sobre essas questões é fundamental para o enfrentamento efetivo do racismo e a construção de uma sociedade mais igualitária.