Mãe Bernadete, uma líder quilombola de 72 anos, era ialorixá e coordenadora nacional da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ), sendo uma figura ativa na luta quilombola. Ela foi assassinada a tiros em agosto deste ano, depois que seu filho Flávio Gabriel Pacífico, também conhecido como Binho do Quilombo, foi morto em 2017. Binho liderava a luta contra a instalação de um aterro próximo ao quilombo.
No evento, Mano Brown e Semayat Oliveira, consultora jornalística do Mano a Mano e cofundadora do Nós, mulheres da periferia, receberam Jurandir Wellington Pacífico, filho de Mãe Bernadete, e Selma Dealdina, secretária executiva da CONAQ. Jurandir, assim como sua mãe e irmão, tornou-se um alvo por defender os direitos de sua comunidade. Ele relatou que após a morte de Mãe Bernadete, passou a ser escoltado 24 horas por dia e não pode manter a mesma rotina de vida, como frequentar jogos de futebol no quilombo.
Selma Dealdina destacou que os quilombos são vistos como entraves para o desenvolvimento do país por aqueles envolvidos com grilagem de terras e especulação imobiliária, o que ela classifica como racismo ambiental. Ela defende que o tema precisa receber mais visibilidade para garantir a proteção dessas populações.
O ministro da pasta dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, também participou do evento, destacando mudanças no programa de proteção a ativistas. Em vida, Mãe Bernadete solicitou proteção às autoridades devido às ameaças que sofria, porém, não foi o suficiente para evitar o assassinato. O Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH), que deveria protegê-la, vem sendo criticado nos últimos anos por problemas em sua execução.
O ministro destacou que o programa sozinho não basta para evitar o assassinato de ativistas, e que é necessário fazer reforma agrária, demarcação de terras indígenas e quilombolas, para prevenir tais crimes. Ele mencionou que o orçamento do programa aumentou na transição do governo Bolsonaro para a gestão de Lula e que o ministério está trabalhando em um sistema de monitoramento dos casos incluídos no programa e no cumprimento de condenações internacionais.
Além disso, foi criado o Grupo de Trabalho Técnico (GTT) Sales Pimenta, que visa identificar as causas da impunidade do assassinato de lideranças e estabelecer medidas de reparação, tratamento psicológico e indenizações compensatórias aos familiares das vítimas. O grupo foi instituído em setembro deste ano pelo Ministério dos Direitos Humanos e é composto por representantes do governo federal e da sociedade civil.