Pode até ser que você cozinhe para a família, guarde suas próprias roupas no armário, ou leve os filhos para a escola, mas se você não divide a carga mental, emocional e todas as outras responsabilidades do lar, então, desculpe, mas você não merece aplausos. E por mais que você se envolva nas tarefas domésticas, se ela ainda precisa se envolver em algo que é sua responsabilidade, então a divisão ainda não é equitativa e uma das partes continua sobrecarregada.
Até mesmo aquelas mulheres com poder aquisitivo para contratar ajuda doméstica continuam sob pressão, pois o “emotional labor”, ou a carga mental, é invisível, ininterrupto e frequentemente não reconhecido. Enquanto estão no trabalho, as mulheres frequentemente têm que se preocupar com questões domésticas e familiares, como a lista de compras, consultas médicas, pequenos consertos domésticos, festinhas na escola, e muitas outras coisas.
Então, para aqueles que aplaudiram o tema do Enem mas continuam perguntando onde está o escorredor de macarrão enquanto cozinham, saibam que ainda há muito a ser feito. A redação do Enem coloca em pauta a questão da invisibilidade do trabalho da mulher no Brasil, mas é preciso mais do que palmas e elogios para mudar essa realidade. É preciso uma verdadeira divisão equitativa de responsabilidades e preocupações, tanto em casa quanto no ambiente de trabalho.
Portanto, para os homens que se consideram desconstruídos, é preciso lembrar que a verdadeira desconstrução envolve não apenas a realização de tarefas domésticas, mas também a partilha da carga mental e emocional. E é somente através dessa verdadeira desconstrução que será possível alcançar uma divisão equitativa do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres.
