Questões ideológicas sobre a Amazônia e o agronegócio geram polêmica no Enem 2023 e parlamentares pedem anulação.

No primeiro dia de aplicação do Enem 2023, no último domingo (5), duas questões trouxeram desconforto para lideranças ruralistas. De acordo com esses parlamentares, os itens que abordavam a Amazônia e o cerrado seriam ideológicos e criariam uma imagem negativa e distorcida do agronegócio.

Diante disso, a Frente Parlamentar da Agropecuária divulgou uma nota nesta segunda-feira (6) solicitando a anulação dessas questões. Segundo eles, essas perguntas não seriam embasadas em critérios científicos.

A bancada ruralista, que conta com 324 deputados e 50 senadores, demanda esclarecimentos do governo Lula (PT) e planeja encaminhar requerimentos de convocação do ministro da Educação, Camilo Santana.

Até o momento da publicação deste texto, nem o Ministério da Educação nem o Inep (Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais), responsável pela organização do Enem, responderam aos questionamentos sobre o caso.

Os itens em questão são o de número 89 e 70, presentes na prova de cor branca. A Frente Parlamentar da Agropecuária solicita a anulação dessas perguntas e levanta questionamentos sobre o governo Lula, além de expressar a intenção de convocar o ministro da Educação, Camilo Santana.

O Sindicato Rural de Ribeirão Preto também se manifestou através de uma carta enviada aos organizadores do exame, na qual aponta uma tentativa de “demonizar o agronegócio brasileiro”. Essa carta foi divulgada por Fabio Wajngarten, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

As duas questões do Enem utilizam trechos adaptados de artigos científicos e requerem que o participante interprete a mensagem transmitida pelos autores.

No caso da questão sobre o cerrado, o enunciado menciona que a lógica do agronegócio tem prevalecido sobre os saberes dos camponeses, fazendo referência a termos como “chuvas de veneno”.

Já a questão que aborda a Amazônia indica que o desmatamento na região está relacionado à expansão da soja, mas também às ações de “grileiros, madeireiros e pecuaristas”.

Os artigos utilizados como base para a elaboração dessas questões são facilmente encontrados na internet e foram escritos por professores e pesquisadores vinculados a instituições como a USP (Universidade de São Paulo), UEG (Universidade Estadual de Goiás) e UFG (Universidade Federal de Goiás), sendo publicados em periódicos científicos.

Vale ressaltar que essa não é a primeira vez em que o Enem é alvo de críticas por parte de grupos políticos, que acusam a prova de promover doutrinação de esquerda. No entanto, durante o governo de Jair Bolsonaro, nenhuma pergunta sobre ditadura militar foi inserida nas quatro edições do exame.

As questões do Enem são elaboradas por professores universitários, a partir de editais formulados pelo governo, passando por um longo processo de criação. Elas são pré-testadas, ou seja, várias pessoas respondem a cada questão, possibilitando a calibração de diferentes aspectos, como o nível de dificuldade e a probabilidade de acerto por chute, seguindo o modelo matemático adotado pelo Enem, conhecido como Teoria de Resposta ao Item (TRI).

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