Diante disso, a Frente Parlamentar da Agropecuária divulgou uma nota nesta segunda-feira (6) solicitando a anulação dessas questões. Segundo eles, essas perguntas não seriam embasadas em critérios científicos.
A bancada ruralista, que conta com 324 deputados e 50 senadores, demanda esclarecimentos do governo Lula (PT) e planeja encaminhar requerimentos de convocação do ministro da Educação, Camilo Santana.
Até o momento da publicação deste texto, nem o Ministério da Educação nem o Inep (Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais), responsável pela organização do Enem, responderam aos questionamentos sobre o caso.
Os itens em questão são o de número 89 e 70, presentes na prova de cor branca. A Frente Parlamentar da Agropecuária solicita a anulação dessas perguntas e levanta questionamentos sobre o governo Lula, além de expressar a intenção de convocar o ministro da Educação, Camilo Santana.
O Sindicato Rural de Ribeirão Preto também se manifestou através de uma carta enviada aos organizadores do exame, na qual aponta uma tentativa de “demonizar o agronegócio brasileiro”. Essa carta foi divulgada por Fabio Wajngarten, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
As duas questões do Enem utilizam trechos adaptados de artigos científicos e requerem que o participante interprete a mensagem transmitida pelos autores.
No caso da questão sobre o cerrado, o enunciado menciona que a lógica do agronegócio tem prevalecido sobre os saberes dos camponeses, fazendo referência a termos como “chuvas de veneno”.
Já a questão que aborda a Amazônia indica que o desmatamento na região está relacionado à expansão da soja, mas também às ações de “grileiros, madeireiros e pecuaristas”.
Os artigos utilizados como base para a elaboração dessas questões são facilmente encontrados na internet e foram escritos por professores e pesquisadores vinculados a instituições como a USP (Universidade de São Paulo), UEG (Universidade Estadual de Goiás) e UFG (Universidade Federal de Goiás), sendo publicados em periódicos científicos.
Vale ressaltar que essa não é a primeira vez em que o Enem é alvo de críticas por parte de grupos políticos, que acusam a prova de promover doutrinação de esquerda. No entanto, durante o governo de Jair Bolsonaro, nenhuma pergunta sobre ditadura militar foi inserida nas quatro edições do exame.
As questões do Enem são elaboradas por professores universitários, a partir de editais formulados pelo governo, passando por um longo processo de criação. Elas são pré-testadas, ou seja, várias pessoas respondem a cada questão, possibilitando a calibração de diferentes aspectos, como o nível de dificuldade e a probabilidade de acerto por chute, seguindo o modelo matemático adotado pelo Enem, conhecido como Teoria de Resposta ao Item (TRI).