Andreia expressou sua indignação e pediu por justiça, pedindo que o governo oferecesse proteção para os filhos das vítimas desse sistema que está tomando conta do Rio de Janeiro. Ela ressaltou que esse sistema está assassinando pessoas, deixando crianças órfãs e famílias devastadas. Segundo informações, os milicianos estão presentes em pelo menos 833 áreas no Rio de Janeiro, onde extorquem comerciantes e moradores e controlam serviços básicos, como gás e internet. A zona oeste do Rio e a Baixada Fluminense são as regiões com maior presença desses grupos criminosos, sendo exatamente onde Adriel foi morto.
De acordo com as investigações da Polícia Civil, Adriel e três amigos foram retirados de um carro de aplicativo por homens armados em Nova Iguaçu. Adriel e seus amigos planejavam ir ao shopping para comprar uma bicicleta para a filha de Adriel, de dois anos. O veículo foi interceptado na frente de um bar lotado, durante o dia. Andreia, desesperada para entender o motivo pelo qual seu filho foi morto, conduziu uma investigação própria. Ela descobriu que um dos amigos de Adriel havia cometido um roubo, que foi denunciado aos milicianos da área, resultando na morte de todos do grupo.
O corpo de Adriel foi encontrado no rio Capenga por um helicóptero de uma emissora de televisão, onze dias após seu desaparecimento. Andreia reconheceu o filho quando viu a imagem transmitida ao vivo pela televisão. Segundo a polícia, Adriel e os outros foram torturados e mortos por Delson Dias Lima, conhecido como Delsinho, irmão de Danilo Dias Lima, apontado como um dos chefes da milícia que atua na região. Delsinho foi encontrado morto dez dias após a identificação do corpo de Adriel.
A mãe de Adriel presenteou sua neta, filha de Adriel, no dia do funeral com a bicicleta que ele pretendia comprar. Porém, a morte de Adriel mergulhou Andreia em uma profunda depressão, fazendo com que ela tenha crises de pânico que a impedem de voltar a trabalhar. Ela lamentou não ter tido a chance de se despedir do filho, já que o caixão foi fechado durante o funeral.
Viúvas de milicianos também relataram o medo constante em que vivem. Mesmo sendo familiares de integrantes desses grupos criminosos, elas têm receio de se tornarem vítimas futuramente. Uma viúva, cujo marido foi assassinado durante uma disputa interna dentro da milícia, afirmou que vive com medo, já que mora próximo ao local onde o marido foi morto. Ela ressaltou que não recebe ajuda dos milicianos e destacou a diferença em relação ao tráfico de drogas, que costuma auxiliar as famílias dos mortos.
O estado do Rio de Janeiro registrou 3.347 casos de desaparecimentos nos primeiros sete meses de 2022, sendo mais de metade deles na Baixada Fluminense e na zona oeste da capital, as áreas com maior presença de milícias. Segundo a delegada Ana Carolina Caldas, da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, a maioria desses desaparecimentos não é relacionada a atividades criminosas, mas sim a fugas voluntárias. No entanto, o sociólogo José Cláudio Alves, autor do livro “Dos barões ao extermínio: uma história da violência na Baixada Fluminense”, acredita que há subnotificação dos desaparecimentos causados pela milícia, pois muitas mães têm medo e acreditam que nada pode ser feito.
Uma investigação da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas) revelou que a milícia da região fez uma aliança com traficantes para o enterro dos corpos. Os traficantes autorizam a venda de drogas nas áreas controladas pelos milicianos, em troca da utilização de um cemitério clandestino na Maré.
A série de reportagens “Milícia no RJ” realizada pela Folha percorreu 60 áreas da zona oeste do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense, entrevistando moradores e comerciantes sobre a milícia. Mais de 130 entrevistas foram conduzidas, incluindo especialistas e vítimas dos grupos criminosos. A série expôs a extorsão sofrida pelos empresários locais, a união da milícia com o tráfico, o deslocamento forçado dos moradores de suas residências e outras histórias de violência protagonizadas pela milícia.
Em resumo, a história trágica do desaparecimento e morte de Adriel Andrade Bastos revela a ação devastadora da milícia na cidade do Rio de Janeiro. Familiares das vítimas clamam por justiça e proteção, enquanto a população vive com medo em áreas controladas por esses grupos criminosos. A série de reportagens “Milícia no RJ” da Folha expõe o poder desses grupos e seus impactos na sociedade carioca.