Hasmik Harpoyan entende o sofrimento da família de Naya, mesmo sem conhecê-los pessoalmente, pois seu próprio filho, V. Christ, sobreviveu milagrosamente a um incidente semelhante. Enquanto jogava futebol em um estádio, Christ foi atingido por uma bala entre as costelas, que ainda está cravada em seu peito. O menino não se lembra de ter ouvido o som dos disparos, apenas sentiu uma dor intensa e não conseguia respirar. Felizmente, seu treinador o levou imediatamente ao hospital, onde recebeu tratamento adequado.
A família de Christ foi aconselhada pela polícia a registrar uma denúncia anônima, mas a identificação do atirador foi impossível. Isso ocorre com frequência no Líbano, onde disparos para o alto são ilegais, mas raramente resultam em punição. Muitas vezes, os atiradores estão protegidos por líderes políticos e qualquer acusação pode resultar em perseguição.
Essa impunidade é um problema sério e reflete a falta de resposta efetiva das autoridades. Um estudo recente mostrou que, em uma véspera de Ano-Novo, 242 suspeitos foram identificados por disparos comemorativos, mas apenas dois permaneceram presos. Isso levanta questionamentos sobre o poder e a influência que alguns atiradores possuem para escapar das consequências de seus atos.
Para entender a letalidade das balas disparadas para cima, diversos estudos foram realizados. Apesar de as balas terem velocidade reduzida quando estão em queda, ainda podem ser fatais. A velocidade terminal de uma bala depende de vários fatores, mas estudos indicam que velocidades acima de 61 m/s podem penetrar o crânio humano. Especialistas em cultura de armas argumentam que essa prática está enraizada em pressupostos culturais que associam as armas à masculinidade e ao ego, mas também pode ter sido influenciada por cerimônias militares que envolvem salvas de tiros.
Apesar das campanhas de sensibilização e da condenação das autoridades religiosas e políticas, os disparos comemorativos continuam ocorrendo. No entanto, algumas pessoas começam a questionar e abandonar esse hábito. Ayman, um ex-atirador que costumava atirar para o alto aleatoriamente, sentiu remorso quando soube das mortes causadas por balas perdidas. Ele percebeu que ninguém lhe disse que esse comportamento não é masculino e que é proibido por todas as religiões, devido ao risco de morte.
A prática de disparos para o alto ocorre em vários países, como Oriente Médio, norte da África, América do Sul, Balcãs e algumas partes da Ásia. Embora também ocorra nos EUA, há relatos de que está mais associada à violência nas ruas do que a comemorações. Infelizmente, há vários exemplos de mortes e ferimentos causados por balas perdidas em celebrações, como casamentos e feriados.
É essencial que as autoridades ajam para combater essa prática perigosa e, mais importante, garantir que aqueles que dispararem balas perdidas sejam responsabilizados por suas ações. A impunidade não pode ser tolerada quando vidas inocentes estão em jogo. O caso de Naya e a história de Christ são exemplos trágicos de como uma ação irresponsável pode trazer consequências devastadoras para famílias inteiras.