Comunidade quilombola enfrenta dificuldades em viagens de barco de até 12 horas para acessar serviços básicos

No município de Oriximiná, no Pará, cerca de 50 pessoas aguardam em um barco pequeno o horário de iniciar a viagem de retorno para a comunidade Mae Cué. O trajeto entre o quilombo e a parte urbana da cidade dura aproximadamente 12 horas e o retorno leva tempo parecido. Esse é apenas um dos desafios enfrentados pelos quilombolas dessa região.

O barco, que estava estacionado na orla da cidade, era fechado e de tamanho reduzido. A capacidade de acomodar os passageiros com conforto já estava ultrapassada, especialmente devido às dezenas de redes penduradas dentro da embarcação, que dificultavam a ventilação e tornavam o calor insuportável. A temperatura no momento era de 36ºC, mas a sensação térmica passava dos 42ºC.

Mulheres, homens, crianças e idosos da comunidade compartilhavam o espaço dentro do barco, juntamente com suas sacolas e caixas de produtos que levariam de volta para o quilombo. A alimentação também era improvisada durante a viagem. A cada mês, os quilombolas realizam essa jornada de 24 horas navegando pelo rio Trombetas para acessar serviços básicos na cidade, como supermercados, farmácias, bancos, hospitais e lojas de roupas. A comunidade de Mae Cué é uma das mais afastadas da região central de Oriximiná, situada próxima ao quilombo Cachoeira Porteira.

O principal motivo que leva os quilombolas a realizar essa viagem mensal é a necessidade de receber o Bolsa Família, uma importante fonte de renda para eles. Além disso, alguns quilombolas trabalham na coleta de castanhas ou como pedreiros na cidade. No total, Oriximiná abriga quase 10 mil quilombolas, o que representa cerca de 14% da população total do município.

A distância entre as comunidades quilombolas e a parte urbana de Oriximiná também prejudica a educação. A falta de infraestrutura adequada obriga os alunos a estudarem em turmas mistas, onde são reunidos alunos de diferentes séries. Segundo Elielma de Jesus Pires, líder quilombola e coordenadora de mulher do território, essa realidade compromete a qualidade da educação e sobrecarrega os professores.

Além dos desafios na área da educação, a saúde também é uma preocupação para os quilombolas. As comunidades não possuem hospitais e, em casos de doença, é preciso percorrer longos trajetos de barco até o local de atendimento. Elielma reivindica a implementação de um posto de saúde ambulante nessas áreas remotas e cobra a mineradora MRN, responsável pela exploração de bauxita na região, para que cumpra suas responsabilidades com a comunidade.

Por sua vez, a mineradora alega que já desenvolve programas voltados para a saúde e educação dos quilombolas. A Prefeitura de Oriximiná possui um programa de barqueiros, que emprega quilombolas para transportar crianças de barco até as escolas. No entanto, a gestão municipal reconhece que não possui verba suficiente para assumir o transporte de toda a população quilombola da cidade.

Carlos Printes, outra liderança quilombola de Oriximiná, denuncia a falta de infraestrutura e políticas públicas nas comunidades. Ele destaca o quilombo do Boa Vista, localizado próximo à mineradora, como exemplo de descaso, onde não existe um posto de saúde adequado para atender a população.

Os quilombolas de Oriximiná enfrentam inúmeras dificuldades e precisam viajar por longas horas para ter acesso a serviços básicos. A falta de infraestrutura adequada compromete a educação e a saúde dessas comunidades. É urgente que medidas sejam tomadas para melhorar a qualidade de vida e garantir os direitos desses quilombolas.

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