A solicitação de dados de afastamentos por doenças mentais foi negada tanto pela PRF quanto pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. No entanto, o próprio diretor-geral da PRF, Antônio Fernando Souza Oliveira, reconheceu a existência desses dados dentro da corporação em uma entrevista concedida à Folha em setembro. Ele não foi capaz de explicar por que essas informações não foram disponibilizadas.
A PRF afirmou que não possui uma ferramenta para separar as informações de afastamentos por doenças mentais e destacou a existência do Projeto Vida PRF, que oferece atendimentos psicológicos aos seus servidores por meio de psicólogos e psiquiatras credenciados. A instituição disse também estar contratando mais especialistas na área.
No entanto, especialistas apontam que é essencial divulgar os dados de afastamento para que se possa desenvolver políticas de enfrentamento adequadas em conjunto com a população. Pablo Lira, presidente do Instituto Jones dos Santos Neves e professor de Segurança Pública da Universidade Vila Velha, ressalta a importância de basear essas políticas em evidências científicas, mas também destaca a importância de preservar a privacidade dos envolvidos.
Além da PRF, outras corporações policiais também têm enfrentado um aumento no número de suicídios. Nos últimos cinco anos, somando os dados da PRF com os da Polícia Federal, Polícia Militar e Polícia Civil, foram registrados pelo menos 531 casos de suicídio. Esse número representa uma morte a cada três dias de policiais no país de 2017 a 2022.
No caso da Polícia Federal, o número de suicídios tem aumentado. Em 2023, já foram registrados quatro casos, em comparação com nenhum caso em 2022 e dois casos em 2021. Desde 2018, a PF tem registrado mais de 200 afastamentos por ano de servidores por motivos psicológicos e psiquiátricos.
Vários fatores podem contribuir para esse aumento no número de casos, como o aumento da violência nos últimos anos, que intensifica a demanda de trabalho dos policiais. Além disso, a profissão policial frequentemente envolve lidar com fatores estressantes, jornadas excessivas de trabalho e remunerações insuficientes.
Especialistas defendem mudanças estruturais dentro dessas corporações, argumentando que é necessário oferecer apoio psicológico aos policiais, mas também é fundamental abordar questões como cargas horárias excessivas e remunerações adequadas.
Nos últimos dois anos, a quantidade de suicídios também aumentou em seis estados brasileiros nas corporações estaduais, como a Polícia Militar. Em alguns desses estados, o número de suicídios é maior do que o número de mortes em confrontos em serviço.
É indispensável melhorar a compreensão e o cuidado em relação à saúde mental dos policiais. É necessário que haja uma mudança na forma como a sociedade enxerga e lida com o tema e que as corporações policiais ofereçam estrutura e apoio adequados aos seus agentes. Somente assim será possível enfrentar esse problema de maneira eficaz e garantir a saúde e o bem-estar dos profissionais da segurança pública.