Montagens com uma multidão de bandeiras em frente ao estádio ou aos morros do Leblon inundam as redes sociais do país vizinho e prenunciam o que está por vir. Os argentinos só terão 20 mil ingressos reservados, mas a prefeitura de Eduardo Paes espera a chegada de mais de 100 mil torcedores, muitos dos quais já estão a caminho da cidade em aviões, ônibus, carros e até mesmo a pé.
Com a chegada dos argentinos, porém, vem também o temor de episódios de violência. O próprio Boca Juniors divulgou uma lista de recomendações lembrando que “cantos e gestos racistas/xenófobos constituem um delito grave que pode levar a até cinco anos de prisão”, crime que não é incomum quando os dois países se enfrentam. Foi aconselhado também que os argentinos “evitem qualquer tipo de provocação ao povo brasileiro”.
Na sexta-feira (3), está previsto um “bandeiraço” dos apoiadores do time argentino na praia de Copacabana, na altura do Quiosque Buenos Aires. Até lá, também estará funcionando na areia uma “fan zone” da Conmebol (Confederação Sulamericana de Futebol), aberta desde segunda-feira (30).
Já na data do jogo, torcedores do Fluminense terão um telão na praça da Cinelândia, enquanto os torcedores do Boca contarão com uma estrutura no sambódromo da Sapucaí, ambos no centro da cidade, a 2,5 km de distância. A Polícia Militar do RJ não respondeu como será o esquema de segurança. Nesta terça-feira, o governo federal anunciou que a Polícia Rodoviária Federal e a Força Nacional vão reforçar o policiamento no Rio durante o fim de semana.
A tensão entre as torcidas já começou a subir nesta segunda-feira, quando um grupo de torcedores argentinos foi agredido por torcedores do Fluminense na praia de Copacabana. Imagens de uma torcedora deitada na orla com a cabeça ferida também causaram revolta no país vizinho. A Polícia Civil disse que três homens foram levados à delegacia de turismo e autuados em flagrante por lesão corporal, associação criminosa e tentativa de roubo.
Ameaças dos dois lados nas redes sociais ajudam a elevar a pressão. A torcida organizada Sobranada, do Fluminense, publicou: “Pra racista é soco na boca”, enquanto o líder da torcida organizada do Boca, Rafael Di Zeo, rebateu: “Se querem guerra, vamos dar”. O grupo tricolor então treplicou: “Todos os torcedores comuns do Boca, as famílias, as crianças, serão bem-vindos no Rio. Os cagões da 12, fiquem atentos”, escreveu, divulgando em seguida comentários com emoticons de macacos e bananas que recebeu em posts anteriores e, por fim, um vídeo editado de brigas de torcida.
Até o ex-jogador e senador Romário entrou na polêmica e foi tema de diários esportivos no país vizinho. “Quem deve levar é o Fluminense. Argentino que se f*, esses filha da p*. É isso, e Boca vai tomar no c*. Sou Fluminense desde que nasci”, afirmou em entrevista ao jornal O Globo, ironizando, já que é torcedor do America-RJ.
Na visão de Fernando “Chino de Merlo”, presidente da filial da torcida do Boca na cidade de Merlo, foram casos isolados e não se deve generalizar. “Devemos chegar em paz. Mas se nos procurarem, vão nos encontrar”, alerta ele. O presidente da torcida afirma estar muito nervoso e ansioso depois de quase um mês de preparativos, desde que o Boca eliminou o Palmeiras nos pênaltis.
Grupos de torcedores argentinos já estão a caminho do Rio de Janeiro, viajando de ônibus. Além disso, muitos argentinos estão chegando à cidade de avião. Imagens de grandes grupos de torcedores alentando nos aeroportos e até mesmo dentro dos aviões já começam a se espalhar. E até mesmo os mais fanáticos torcedores argentinos estão marcando presença, como Leandro Fortunato, que iniciou uma caminhada de mais de 2.600 km nos últimos 20 dias para ir à final, após uma aparente desilusão amorosa.
Com a chegada iminente dos torcedores ao Rio de Janeiro, as autoridades estão tomando medidas de segurança para garantir que o evento transcorra de forma tranquila. A Polícia Rodoviária Federal e a Força Nacional vão reforçar o policiamento na cidade durante o fim de semana. No entanto, o temor de episódios de violência entre as torcidas ainda persiste. Resta esperar que o clima de rivalidade possa ser superado pela paixão pelo futebol e que a final da Copa Libertadores seja um espetáculo inesquecível para os torcedores argentinos e brasileiros.