As milícias, grupos paramilitares originalmente criados por policiais, dominam diversas comunidades nas zonas oeste e norte da capital, além da Baixada Fluminense e em cidades da região leste, como São Gonçalo e Itaboraí. Nos últimos anos, algumas dessas milícias se associaram ao tráfico de drogas, o que alterou sua forma de agir. O ataque violento ao transporte público, considerado o maior da história do estado, era uma prática comum dos traficantes e não dos milicianos.
O coronel da reserva da Polícia Militar Robson Rodrigues explica que tanto o Comando Vermelho quanto as milícias passaram por transformações, absorvendo as técnicas e estratégias um do outro. Hoje em dia, é possível ver a milícia envolvida com o tráfico e com operações, assim como o tráfico explorando serviços e a população. As fronteiras entre esses dois grupos estão cada vez mais tênues.
Um dos pontos criticados pelos especialistas é o fim da Secretaria de Segurança (Seseg) no início de 2019, por iniciativa do então governador Wilson Witzel. Segundo eles, essa medida desmantelou as políticas de planejamento e metas e levou as polícias de volta ao passado. As corporações trabalham de forma isolada e realizam operações com foco na visibilidade, ou seja, incursões espetaculosas nas comunidades que não abalam a estrutura do crime organizado.
A antropóloga e professora de Segurança Pública na Universidade Federal Fluminense, Jacqueline Muniz, critica essa abordagem, afirmando que as operações são a única dimensão visível que o cidadão reconhece como ação de segurança. Ela enfatiza a falta de investimentos na reforma do aparelho policial e na eficiência das corporações.
Os ataques aos ônibus e ao trem na semana passada foram o ápice de uma sequência de episódios violentos na cidade nos últimos 30 dias. Imagens de traficantes recebendo treinamento militar, a explosão de uma granada em um ônibus, o assassinato de médicos por conta de uma guerra de quadrilhas e o envolvimento de policiais civis em negociações com traficantes são alguns exemplos desses acontecimentos.
As milícias no Rio de Janeiro foram formadas inicialmente por policiais civis, militares e outros agentes de segurança. Elas dominavam áreas pobres e atuavam sob proteção de políticos que também faziam parte desses grupos. As raízes das milícias podem ser rastreadas até a ditadura militar, nos anos 60, quando surgiram os chamados Esquadrões da Morte, que assassinavam criminosos comuns na periferia das grandes cidades.
Nos últimos anos, milicianos e traficantes se aliaram em alguns bairros da cidade. Especialistas destacam que sem a participação ou conivência do Estado, as milícias não teriam conseguido se estabelecer e se expandir. A falta de atenção das autoridades para o perigo das milícias também é apontada como um fator que contribuiu para a atual crise na segurança pública do Rio de Janeiro.
Em resumo, a crise na segurança pública do Rio de Janeiro está relacionada às atividades das milícias em áreas pobres e às mudanças no comportamento do crime organizado. O fim da Secretaria de Segurança e a falta de investimentos na reforma policial são apontados como pontos negativos na abordagem do governo. Os recentes ataques aos ônibus e ao trem são apenas um reflexo dessa crise, que vem se agravando ao longo dos últimos meses.