O estudo, realizado pela Fundação José Luiz Egydio Setúbal e pelo Instituto Galo da Manhã, em parceria com a Ipsos e a Vital Strategies, coletou dados entre novembro e dezembro de 2021 em 134 municípios brasileiros, abrangendo todas as regiões do país. Foram entrevistadas 2.238 pessoas maiores de 18 anos de todas as classes sociais, com média de idade de 42 anos, sendo que 4 em cada 10 entrevistados têm filhos menores de 18 anos.
Os resultados da pesquisa reforçam dados divulgados em julho no 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que apontaram um aumento em todos os tipos de violência contra crianças e adolescentes em 2022, incluindo casos de abandono, maus-tratos, lesão corporal e crimes sexuais.
Um aspecto revelado no estudo é que aquelas pessoas que vivenciaram mais violência na infância têm maior propensão a adotar práticas violentas com seus filhos, chegando a utilizá-las até 2,5 vezes mais. Segundo Sofia Reinach, gerente da área de prevenção de violências da Vital Strategies, esses resultados evidenciam como a violência se torna intergeracional, perpetuando-se de uma geração para a próxima.
Embora a maioria dos entrevistados afirme que o diálogo é mais eficaz na educação das crianças, uma porcentagem significativa ainda acredita na eficácia das punições violentas. Para Reinach, isso demonstra que as pessoas praticam mais violência do que acreditam, indicando uma discrepância entre as percepções e as ações.
Os dados também revelam uma fragilidade na concepção da infância no Brasil. Embora a população reconheça a importância do brincar e dos direitos das crianças, o estudo mostra que certas ações consideradas inadequadas podem fazer com que a sociedade deixe de enxergar um jovem como criança, negando-lhe a possibilidade de educação e compreensão.
Outro dado alarmante é que 64% da população não tomaria qualquer medida ao presenciar uma violência contra uma criança ou adolescente. Para Reinach, isso revela uma aceitação da violência e reflete a ideia de que não se deve interferir nos problemas alheios.
Diante desses resultados, especialistas destacam a necessidade de uma política única de combate à violência, além da ampliação da transparência do orçamento público destinado às crianças e adolescentes. Intervenções precoces, como visitas domiciliares a famílias com gestantes ou crianças pequenas, também são apontadas como medidas eficazes para reduzir a violência e promover uma maior conscientização sobre o tema.
No entanto, para o secretário executivo da Coalizão Brasileira pelo Fim da Violência contra Crianças e Adolescentes, Lucas Lopes, as políticas públicas acabam se limitando a campanhas de comunicação, sendo necessário fornecer suporte efetivo às famílias e ajudá-las a entender o que é violência. Ele ressalta que informações isoladas não são suficientes e que é importante investir em estratégias eficazes para interromper os ciclos de violência e proteger a infância no país.