Os países mais afetados, além do Brasil, seriam a China, a Índia, a Indonésia e as Filipinas, onde frutas como manga, melancia, café e cacau estão ameaçadas pela falta de polinizadores.
A equipe de pesquisa, liderada por Joseph Millard do Museu de História Natural de Londres, cruzou dados de 2.673 localidades e 3.080 espécies de insetos polinizadores para prever como eles responderiam às mudanças climáticas. O estudo utilizou modelos matemáticos para analisar o impacto de dois cenários diferentes: aumentos de temperatura de 1,5°C e 3°C até o final deste século.
Os pesquisadores alertam que, nos trópicos, onde já há altas temperaturas, as mudanças climáticas tendem a ser mais severas para a função dos insetos. A diminuição da abundância de polinizadores pode ter efeitos preocupantes nas lavouras, pois a polinização é essencial para a reprodução de plantas que não são capazes de fecundar a si mesmas.
Embora ainda não haja certeza sobre os impactos da escassez de polinizadores nas lavouras, a pesquisa ressalta que o colapso do mecanismo de polinização pode ocorrer repentinamente, mesmo com uma aparente estabilidade no processo.
Plantas que dependem de polinizadores com características específicas, como o tomate e o pimentão, correm um risco maior, pois precisam ser visitadas por abelhas que tenham capacidade de vibração para ocorrer a polinização. Por outro lado, o maracujá, por exemplo, precisa de abelhas grandes, que são as mais afetadas pelo aquecimento global.
Além das mudanças climáticas, a perda de polinizadores também é impulsionada pelo uso de agrotóxicos e pela destruição dos habitats naturais dos insetos. Como solução, alguns agricultores têm recorrido à polinização manual realizada por seres humanos, mas essa prática aumenta os custos de produção.
Outra alternativa é o aluguel de caixas de abelhas, porém o preço tem subido, e a variedade de espécies manejadas nesse sistema é limitada. A pesquisadora Luísa Cavalheiro destaca que, para muitas culturas, as espécies de abelhas disponíveis atualmente não possuem os atributos adequados para atuar como polinizadoras.
Diante desses desafios, é necessário investir em programas de conservação dos polinizadores e em medidas para reduzir os impactos das mudanças climáticas. A preservação da biodiversidade e a diminuição do uso de agrotóxicos são ações fundamentais para garantir a continuidade da produção agrícola e a reprodução das plantas tropicais.