Cursinhos preparam-se para receber alunos indígenas e quilombolas e garantir acesso ao ensino superior

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que completou 25 anos de aplicação, tem desempenhado um papel fundamental na transformação do acesso às instituições de ensino superior do Brasil. Além disso, o Enem também tem impactado os cursinhos preparatórios, que passaram a se preocupar com a inclusão de alunos indígenas e quilombolas.

Um exemplo de cursinho que tem se adaptado para receber esses alunos é o Colmeia, criado em 2010 na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No final do ano passado, o Colmeia se tornou um programa institucional da universidade e conta com o apoio necessário para a sua continuidade.

O Colmeia oferece aulas noturnas e também no formato online, contando com 17 professores, entre graduandos e pós-graduandos da Unicamp, que ministram aulas de diversas disciplinas. Além disso, o cursinho se preocupa não apenas com o ensino, mas também com o acompanhamento dos alunos aprovados no ensino superior. O objetivo é garantir que esses estudantes se integrem bem na comunidade acadêmica e tenham condições de concluir o curso, inclusive financeiramente.

Uma das preocupações do Colmeia é oferecer um ambiente de acolhimento para os alunos indígenas e quilombolas, respeitando o conceito de “lugar de fala”. Para isso, é disponibilizado um dia da semana em que os alunos podem conversar e receber orientações de instrutores que também pertencem a esses grupos. O mesmo cuidado é dado aos alunos da Fundação Casa, mulheres e ribeirinhos.

Além dos desafios enfrentados no ensino superior, os alunos do Colmeia também enfrentam dificuldades no acesso à internet. De acordo com um levantamento realizado pelo cursinho, 83% dos alunos estudam pelo celular, o que demanda um plano de dados que acaba se esgotando rapidamente. Alguns alunos chegam a enfrentar situações extremas, como um quilombola que atravessava um rio à noite para conseguir sinal de internet.

Outro cursinho que tem trabalhado para incluir alunos indígenas é o curso Jenipapo Urucum, da Associação Nacional de Ação Indigenista (Anaí). As estudantes indígenas enfrentam dificuldades até mesmo na posse de um aparelho celular, que muitas vezes é compartilhado com outros membros da família. Por isso, o cursinho mobiliza constantemente doações de tablets, computadores e celulares.

Apesar dos avanços, a presença de estudantes indígenas no ensino superior ainda é pequena. Segundo o Instituto Semesp, em 2021, havia pouco mais de 46 mil estudantes indígenas no país, correspondendo a 0,5% do total de alunos do ensino superior. No entanto, a participação feminina entre esses estudantes é maior, com 55,6%.

Para as alunas do Jenipapo Urucum, o cursinho representa uma oportunidade de pertencimento. Elas destacam a importância de conhecer outras culturas e tradições, além de se sentirem representadas pelo projeto. No entanto, elas também expressam preocupação com a realidade que enfrentarão na universidade, uma vez que sairão da zona de conforto e enfrentarão novos desafios.

Para ampliar a presença de indígenas no ensino superior, é fundamental investir no ensino básico e adotar políticas afirmativas, como as cotas. O ensino nas aldeias ainda é precário, o que acaba desmotivando muitos indígenas a participarem do Enem e ingressarem no ensino superior. Portanto, é necessário garantir que esses alunos se sintam capazes e tenham acesso a um ensino de qualidade desde a educação básica.

Em resumo, os cursinhos preparatórios estão se adaptando para receber alunos indígenas e quilombolas, proporcionando um ambiente de acolhimento e apoio. No entanto, é preciso investir também no ensino básico e adotar políticas afirmativas para garantir uma maior representatividade desses grupos no ensino superior.

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