Um dos exemplos dessa movimentação cultural é o Pagode da Gigi, que acontece todas as quartas-feiras na Lapa. O compositor Eduardo Familião, que às vezes integra o time de músicos, destaca a importância desse movimento. Ele ressalta que é difícil definir o que está acontecendo atualmente nas ruas cariocas, mas acredita que algo impactante está em curso.
A percussionista Giselle Sorriso também contribui para essa efervescência cultural com o Pagode da Gigi. Inicialmente realizado na comunidade Vila Aliança, em Bangu, o evento agora acontece semanalmente na Lapa. A roda atrai um público majoritariamente negro e LGBTQIA+, que se sente seguro e acolhido nesse espaço.
Outra roda de destaque é o Mulheres da Pequena África, liderado pelas cantoras Dora Rosa e Thais Villela. O evento acontece todas as quartas-feiras na Pedra do Sal, local histórico de venda de africanos escravizados e onde surgiram os primeiros terreiros de culto aos orixás. A proposta do Mulheres da Pequena África é incentivar a presença feminina no samba, convidando mulheres sambistas de todo o Brasil para cantar e revisando letras machistas.
Thais Villela ressalta que o samba tem se tornado uma poderosa ferramenta de empoderamento feminino, devolvendo à mulher o protagonismo que ela sempre deu ao gênero musical. Além disso, a roda aborda temas como feminicídio e etarismo, buscando conscientizar o público sobre essas questões.
Em 2021, atendendo a pedidos de músicos e produtores, o prefeito Eduardo Paes regulamentou as rodas de samba em espaços públicos. Essa medida criou um programa de desenvolvimento cultural da rede carioca de rodas de samba, com o objetivo de otimizar a liberação da Vigilância Sanitária e Ordem Pública, além de estabelecer um calendário para os eventos. Atualmente, cerca de 95 rodas de samba estão cadastradas nessa rede.
Wanderso Luna, presidente da entidade responsável pela rede de rodas de samba, destaca que esses eventos têm revitalizado regiões historicamente habitadas por pessoas negras, mas negligenciadas. A praça Tiradentes é um exemplo disso, onde o Pede Teresa foi iniciado em 2016, em uma época marcada por roubos e arrastões na área. Luna ressalta que a praça sempre foi um território de presença negra e que agora essa ocupação está se restabelecendo.
A diversidade nas rodas de samba vai além do centro da cidade. Na Penha, por exemplo, o Samba das Rosalinas acontece mensalmente, nos domingos, em uma rua de casas baixas. Esse evento busca abraçar todas as pessoas, e possui um grupo no WhatsApp com 140 mulheres freqüentadoras da roda, onde trocam experiências, dicas de saúde e apoio psicológico. Vivian Chaves, idealizadora do evento juntamente com a produtora Beta Assunção, destaca que o samba é um ambiente de corrente, onde as pessoas se sentem livres para serem elas mesmas.
Em suma, as rodas de samba no Rio de Janeiro estão se tornando espaços de inclusão e empoderamento, acolhendo pessoas pretas, mulheres e LGBTQIA+. Esses eventos têm promovido não apenas a valorização do samba, mas também a discussão de questões importantes como feminismo e luta contra o preconceito. A regulamentação das rodas de samba pelo prefeito Eduardo Paes contribuiu para fortalecer esse movimento cultural e tornar esses eventos mais acessíveis ao público.