“Adeus a Carlos Eugênio Marcondes de Moura: pesquisador e intelectual deixam legado significativo para a cultura brasileira”.

O sociólogo e escritor Carlos Eugênio Marcondes de Moura, conhecido por sua paixão pela arte e cultura, dedicou uma parte significativa de sua carreira acadêmica ao estudo da história das religiões e das tradições populares do Brasil. Apesar de sua contribuição acadêmica ser amplamente reconhecida, seu nome não é tão conhecido fora do meio acadêmico devido à sua natureza reservada.

Carlos Eugênio era admirado por sua amiga Carmen Junqueira, antropóloga e professora da PUC-SP, que o descreve como um intelectual com alma de artista. Além de ser um ávido consumidor de cinema e teatro, Carlos Eugênio era conhecido por sua dedicação à leitura. “Ele era uma pessoa discreta, que não se exibia”, relembra Carmen.

Reginaldo Prandi, sociólogo e professor emérito da USP, destaca a importância de Carlos Eugênio como fonte de informação acadêmica. “Quando comecei a estudar o desenvolvimento do candomblé em São Paulo, uma das minhas principais fontes de informação era o Carlos Eugênio. Ele era um grande organizador de bibliografias e coletâneas sobre temas de difícil acesso”, afirma.

Ao longo de sua carreira, Carlos Eugênio produziu mais de 80 livros sobre diversos temas, incluindo pesquisas próprias, traduções, peças teatrais e catálogos de exposições. Entre suas obras mais conhecidas estão “Olóòrìsà: Escritos Sobre a Religião dos Orixás”, de 1981, considerado um marco nos estudos sobre a religião de matriz africana, “A travessia da Calunga Grande: Três Séculos de Imagens Sobre o Negro no Brasil”, “Estou Aqui, Sempre Estive, Sempre Estarei: Indígenas do Brasil – suas Imagens” e “O Teatro que o Povo Cria”.

Carlos Eugênio iniciou seus estudos acadêmicos na Universidade de Genebra, na Suíça, onde estudou tradução. No Brasil, graduou-se em ciências políticas e sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, e obteve os títulos de doutor e pós-doutor em sociologia pela USP. Ele também estudou interpretação na Escola de Arte Dramática da USP e foi bolsista na Universidade de Yale, nos Estados Unidos.

Além de sua carreira acadêmica, Carlos Eugênio atuou como curador de museus e exposições, demonstrando sua habilidade na organização e catalogação de material museológico. Ele foi responsável, ao lado de Emanoel Araújo, pela curadoria do acervo do Museu Afro Brasil e possui uma coleção com seu nome no Museu do Ipiranga, que exibe retratos antigos de famílias de fazendeiros do interior paulista.

Carlos Eugênio faleceu aos 90 anos em seu apartamento em São Paulo. Mesmo com problemas de saúde, ele manteve-se ativo até o fim, concluindo a tradução de um livro e deixando outra pronta para ser publicada. Seu legado como intelectual e sua importância para o estudo da cultura brasileira foram destacados por amigos e colegas, que o veem como uma figura que se tornou um orixá ainda em vida pela grandeza de sua obra.

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