O lote de ajuda é o primeiro a ser fornecido aos moradores desde os ataques terroristas do Hamas contra Israel, no dia 7. Ele foi possível após um acordo entre EUA, Israel e Egito.
Organizações que atuam na região como ONU e Médicos Sem Fronteira saudaram o avanço, mas dizem que a chegada é insuficiente. A ONU diz serem necessários ao menos 100 caminhões diários para ajudar os 2,4 milhões de moradores de Gaza.
A principal preocupação é com a falta de combustíveis em hospitais, que impede a manutenção de UTIs e necrotérios, bem como de aparelhos vitais.
Segundo a agência da ONU para refugiados, a Acnur, o governo de Israel vetou a entrada de combustível, com o temor de que o insumo pudesse ser desviado pelos terroristas do Hamas. As próximas remessas de ajuda, assim como a primeira, devem entrar em Gaza após uma inspeção conjunta de israelenses, egípcios e da ONU, mas, por enquanto, não há previsão de entrega de combustível.
O secretário de Estado americano, Anthony Blinken, alertou o Hamas para não tentar desviar a ajuda humanitária sob pena de que ela seja suspensa.
A passagem de fronteira de Rafah, que liga a Península do Sinai, no norte do Egito, à Faixa de Gaza abriu seus portões brevemente ontem pela primeira vez durante o atual conflito. Centenas de voluntários e mais de 200 caminhões carregando cerca de 3 mil toneladas de ajuda estão em fila para ter acesso à passagem há dias, mas apenas uma pequena parte foi liberada ontem.
O presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou na quarta-feira um acordo com o Egito para permitir um primeiro comboio, mas ele demorou a ser posto em prática.
Centenas de portadores de passaportes estrangeiros – incluindo um grupo de 30 brasileiros – também esperam para atravessar de Gaza para o Egito e escapar do conflito. Mas não estava claro quando isso poderia ocorrer. Segundo o jornal The New York Times, Cairo continua extremamente relutante em permitir a entrada de qualquer pessoa vinda de Gaza no seu território.
Cerco
Israel impôs, no dia 9, um cerco total à Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, que dois dias antes lançou uma incursão sem precedentes em solo israelense, matando 1,4 mil e fazendo 210 reféns, segundo número atualizado ontem pelo Exército.
Dentro de Gaza, mais de 4,3 mil palestinos foram mortos em bombardeios da retaliação israelense, segundo o Ministério da Saúde do território. A abertura da fronteira ocorreu horas depois que o Hamas libertou uma mulher americana e sua filha adolescente – as duas também com cidadania israelense -, as primeiras do grupo de reféns a serem soltas.
‘Cúpula da Paz’
Países europeus, africanos, entre outros, reuniram-se no Cairo ontem para uma “cúpula da paz”, mas depois de horas de discursos, não houve nenhum consenso. A reunião expôs divisões, com líderes árabes criticando os ocidentais pelo seu silêncio sobre os ataques aéreos de Israel contra civis palestinos em Gaza.
“A mensagem que o mundo árabe ouve é alta e clara”, disse o rei da Jordânia, Abdullah II. “As vidas dos palestinos importam menos que as de Israel. Nossas vidas importam menos do que outras vidas. A aplicação do direito internacional é opcional e os direitos humanos têm limites – eles param nas fronteiras, param nas raças e param nas religiões.”
O Brasil também participou e, em seu discurso, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, defendeu uma negociação para uma pausa humanitária no conflito em Gaza.
Um dos objetivos da reunião era uma declaração conjunta. Mas líderes europeus se opuseram a assinar um projeto apresentado pelo Egito que não mencionava o direito de Israel de se defender contra o Hamas, segundo fontes citadas pelo New York Times. No final, nenhuma declaração foi emitida.