Um exemplo marcante é o caso de Anésia Adelaide de Araújo, nascida em 1894 na cidade de Jequié, na Bahia. Anésia veio de uma família de comerciantes e fazendeiros e seu destino estava destinado ao casamento e à maternidade. No entanto, quando sua família se viu envolvida em um conflito com duas famílias poderosas da região, os Silva e os Gondins, Anésia decidiu tomar o destino em suas próprias mãos.
Após a morte de seu pai, Anésia decidiu se vingar e formou seu próprio bando, que incluía irmãos e cunhadas, para enfrentar os responsáveis pela morte de seu patriarca. Ela se tornou uma líder corajosa, habilidosa no manuseio de armas de fogo e desafiadora das normas sociais da época. Ela fumava, tomava cachaça em público, participava de rodas de capoeira e usava calças compridas, além de montar a cavalo em uma sela comum.
Anésia conhecia a região de Jequié como ninguém e suas ações chamaram a atenção das forças policiais. O governador da Bahia enviou várias expedições militares com o objetivo de capturá-la e eliminá-la. No entanto, nas três expedições, ela e seu bando conseguiram derrotar as tropas em confrontos, deixando o comando policial humilhado.
Anésia relatou sua história em uma entrevista publicada em um jornal local e deixou registrado o conflito conhecido como “Conflagração Sertaneja”. No entanto, seu destino após esses eventos permanece desconhecido. Ela viveu até os 92 anos e morreu sozinha em 1986.
É importante reconhecer a história de mulheres como Anésia Cauaçú para entendermos a participação das mulheres no cangaço e a luta contra as desigualdades sociais e econômicas que permeavam o Nordeste brasileiro na época. O projeto “Mátria Brasil” tem como objetivo apresentar mulheres relevantes ao longo da história do país, e historiadores têm contribuído com textos que resgatam essas histórias pouco conhecidas. É fundamental valorizar e estudar essas narrativas que ampliam nosso entendimento sobre a participação das mulheres na história do Brasil.