Atualmente com 52 anos, Cris compartilha parte de sua história no livro “Mulheres que Transformam”, lançado recentemente em São Paulo. A obra, assinada por ela e outras 19 lideranças femininas, retrata as experiências e conquistas dessas mulheres que estão fazendo a diferença em suas comunidades.
Cris nasceu em Praia do Janga, uma cidade próxima a Recife, e foi morar na favela Morro dos Prazeres, que deu origem ao seu apelido. Foi nessa comunidade que ela encontrou sua vocação para trabalhar em prol da população carente. Sem muita educação formal, a empreendedora procurou se capacitar por meio do voluntariado, atuando em maternidades, asilos e unidades de atendimento psiquiátrico.
A maternidade também foi um grande impulso para Cris se envolver cada vez mais em ações sociais. Como mãe de três filhos, ela enfrentou dificuldades financeiras e falta de acesso a serviços de qualidade para sua família. Essa realidade a motivou a lutar por melhorias no sistema público de saúde e educação, tanto para sua família quanto para a comunidade em que vivia.
Ao longo dos anos, Cris enfrentou obstáculos e situações de discriminação racial, mas isso não a abalou. Ela utilizou essas experiências como combustível para desenvolver um olhar crítico e agir em prol da igualdade social. Em meio a uma epidemia de HIV na década de 1980, por exemplo, ela percebeu a falta de campanhas de prevenção voltadas para as pessoas da favela. Isso a levou a criar ações de comunicação sobre os riscos das DSTs e planejamento familiar, levando informações de forma acessível e inclusiva.
Além disso, Cris fundou o projeto Proa – Prevenção Realizada com Organização e Amor, em parceria com o Cedaps. O projeto tinha como objetivo levar informações sobre saúde e prevenção para a população de periferia, utilizando uma linguagem adequada e compreensível para esse público.
Outra iniciativa de destaque é o Reciclação, criado em 2012. O projeto, que conta com parcerias importantes como Unicef e MIT, realiza um mapeamento de riscos e manejo de resíduos em favelas. Além de gerar renda para os catadores de materiais recicláveis, parte desses materiais é transformada em bijuterias e roupas, promovendo a sustentabilidade e a geração de emprego e renda.
Sempre em busca de novas formas de transformar vidas, Cris também investiu na área de tecnologia. Seu projeto Vai na Web capacita jovens de baixa renda para atuarem como programadores. A formação gratuita e intensiva proporcionada por essa iniciativa tem gerado oportunidades de emprego em bancos e indústrias, tanto no Brasil quanto no exterior.
A dedicação e o empreendedorismo de Cris foram responsáveis pela criação do Instituto Precisa Ser, organização que engloba todos os seus projetos sociais. Atualmente, ela está planejando um novo projeto de ensino de autodefesa de empoderamento para mulheres vítimas de violência.
Ao completar 30 anos de empreendedorismo de impacto, Cris reflete sobre seu papel como líder comunitária e critica ações sociais que visam apenas o marketing. Para ela, é necessário ir além das boas intenções e realmente gerar um impacto positivo na vida das pessoas.
Cris dos Prazeres é um exemplo de como ações simples e determinação podem transformar comunidades inteiras. Sua história nos lembra que a educação, a igualdade social e a inclusão são pilares fundamentais para um futuro melhor. Com sua coragem e comprometimento, ela tem provado que é possível fazer a diferença, mesmo em meio às adversidades. O mundo precisa de mais pessoas como Cris, dispostas a sair dos números e olhar para as pessoas.