A equipe da Folha de São Paulo visitou tanto o antigo quanto o novo endereço da BMG em Itaituba. A empresa possui filiais em outras cidades da região amazônica. Na cidade paraense, a revendedora deixou o galpão anterior e se mudou para um espaço menor, porém ainda na mesma rodovia. Segundo a empresa, as vendas são de máquinas que já estavam em estoque.
No local, os clientes não conseguem ver as escavadeiras, apenas tratores agrícolas. No entanto, há uma sala reservada para atender clientes interessados na compra de escavadeiras para garimpos. Os funcionários fazem o orçamento e afirmam que as máquinas podem ser enviadas da matriz em São Paulo para a região amazônica.
Essa situação ocorre após a Hyundai rescindir o contrato com a BMG, em reação a um relatório divulgado pelo Greenpeace, que mostrou que as terras indígenas mais impactadas pelo garimpo ilegal de ouro possuem 176 escavadeiras hidráulicas. A organização não governamental realizou sobrevoos entre 2021 e março de 2023 e registrou a presença dessas máquinas em terras indígenas Yanomami, Mundurucu e Kayapó, na Amazônia.
De acordo com o Greenpeace, das 176 escavadeiras detectadas, 75 foram fabricadas pela Hyundai HCE Brasil. A empresa sul-coreana possui uma fábrica de equipamentos pesados em Itatiaia (RJ). Após a divulgação do levantamento, a Hyundai se pronunciou afirmando que a destruição do meio ambiente e a violação de terras indígenas causadas pela mineração ilegal são problemas sérios. A empresa prometeu aprimorar o processo de vendas para evitar o uso ilegal das escavadeiras, suspendendo as vendas de máquinas e peças para clientes suspeitos de atividades ilegais. Além disso, rescindiu imediatamente o contrato com a empresa BMG, que atuava na região.
A BMG possui representações em diversas cidades da Amazônia, incluindo Itaituba e Jacareacanga, próximas da Terra Indígena Mundurucu, Ourilândia do Norte, próximo de aldeias da Terra Indígena Kayapó, e Boa Vista, base de operadores da logística do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.
A exploração ilegal de ouro na região do rio Tapajós, onde estão Itaituba e Jacareacanga, tem prejudicado as comunidades indígenas, gerando conflitos internos, destruindo plantações, poluindo os rios com mercúrio e afetando a saúde dos indígenas. Crianças têm apresentado problemas neurológicos e atraso no desenvolvimento, possivelmente devido à contaminação por mercúrio.
A série “Cerco às Aldeias” da Folha de São Paulo já havia publicado um capítulo sobre a situação na Terra Indígena Mundurucu, mostrando as consequências do avanço dos garimpos ilegais na região. O primeiro capítulo da série focou na terra Kayapó, o território mais devastado pela exploração ilegal de ouro no país, onde as aldeias estão cercadas por crateras e há a cobrança de taxas para a entrada de escavadeiras.
A reportagem tentou entrar em contato com a Hyundai HCE Brasil, mas não recebeu resposta até o momento.