Além de dividir as atenções da diplomacia mundial, os conflitos no Leste Europeu resultaram no aumento do consumo de carvão, que é extremamente poluente, por países europeus que dependiam do gás fornecido pela Rússia. Segundo o ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente, Rubens Ricupero, esse mesmo fenômeno pode ocorrer na COP28. A guerra no Oriente Médio torna improvável qualquer pressão sobre os produtores de petróleo para reduzir a produção, e pode até mesmo incentivar um aumento na produção para evitar um aumento inflacionário nos preços do petróleo.
Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, também destaca que o ambiente já não era favorável às negociações na COP devido à falta de financiamento dos países ricos para reparar os danos causados por eventos climáticos extremos nos países pobres e a ausência de metas mais ambiciosas para combater a crise climática. Ele ressalta que a guerra no Oriente Médio torna ainda mais difícil coordenar um consenso mínimo para avançar nas negociações.
No entanto, Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente, aponta que a agenda da COP já foi definida e que não será possível fugir das discussões centrais do evento, como o financiamento climático e a elaboração do texto final do primeiro Global Stocktake. Ela ressalta que as negociações agora estão se realizando em meio a eventos climáticos reais, e não apenas teóricos, o que torna o debate ainda mais importante.
Porém, as tensões no Oriente Médio se somam às baixas expectativas dos ambientalistas em relação aos resultados da conferência. Os Emirados Árabes Unidos, como país sede, têm grandes interesses na indústria do petróleo e gás, o que causa conflito de interesses na posição do chefe da Adnoc, a companhia estatal de petróleo do país, que presidirá as negociações na cúpula.
Além disso, questões de segurança também surgem em relação à realização da COP28, que espera receber mais de 70 mil participantes, incluindo chefes de Estado e autoridades governamentais. Apesar das dúvidas, a organização afirma estar focada na concretização de ações climáticas tangíveis e ambiciosas e não vê a necessidade de adiar o evento.
Ainda que os conflitos no Oriente Médio não afetem drasticamente a realização da COP28, especialistas indicam que a segurança pode influenciar as discussões climáticas. No caso da COP29, que deve ser realizada no Leste Europeu, a Rússia se opôs a qualquer membro da União Europeia como sede devido à guerra na Ucrânia. Com isso, os Emirados Árabes podem permanecer como detentores da presidência, o que levanta a possibilidade de sediarem o evento duas vezes consecutivas, em um momento crucial para os esforços climáticos.