Quilombolas enfrentam longa espera por titulação de território histórico na zona rural de São Roque.

O bairro do Carmo, localizado na zona rural de São Roque, é um lugar formado principalmente por afrodescendentes. As 52 famílias que vivem lá são uma comunidade quilombola certificada pela Fundação Cultural Palmares e há 17 anos estão lutando junto ao Incra pela posse da área de uma antiga fazenda que existia no local. A fazenda, que pertencia à Província Carmelita Fluminense, foi arrendada no passado para trabalhadores escravizados, que concordaram em voltar depois de 20 anos para se estabelecerem na fazenda em São Roque.

Infelizmente, ao longo das décadas, os quilombolas perderam grande parte da área original para grileiros, devido à expansão urbana e à especulação imobiliária. Atualmente, ocupam apenas cerca de 1% da terra original, correspondendo a 6,6 alqueires dos 2.175 que compunham a antiga fazenda. A área ocupada atualmente pelos quilombolas pertence à Prefeitura de São Roque, que adquiriu o terreno das mãos de terceiros com o objetivo de restaurar as ruínas da casa grande e da senzala. No entanto, a restauração nunca aconteceu e a prefeitura afirmou não ter intenção de retirar os quilombolas do local até que o Incra decida sobre a titulação.

O bairro do Carmo está cercado por condomínios de alto padrão, como o Patrimônio do Carmo, onde há uma reserva natural reivindicada pelos quilombolas no processo do Incra. O uso indevido da área quilombola por terceiros começou nos anos 1930, quando ocorreu um processo de expropriação violento das terras dos quilombolas, conforme revelado por disputas judiciais e apropriação indevida de terras.

Os quilombolas do Carmo sofrem com a falta de titulação por parte do Incra, o que facilita a grilagem e os exclui das políticas públicas. Por exemplo, a escola da comunidade não pode receber os benefícios das escolas quilombolas, e eles também ficaram excluídos dos auxílios durante a pandemia. Esse problema não é exclusivo do Quilombo do Carmo, pois o Incra possui 1.808 processos abertos e apenas 46 territórios titulados. Além disso, o governo de Jair Bolsonaro reduziu significativamente o orçamento do Incra para o reconhecimento e indenização de territórios quilombolas, prejudicando ainda mais a situação dos quilombolas.

Diante dessa realidade, os quilombolas do Carmo continuam lutando pela posse da terra, honrando seus antepassados e reivindicando seus direitos. Enquanto isso, Maria José dos Santos, uma quilombola de 72 anos, trabalha em sua pequena horta nos fundos de sua casa, lembrando as palavras de sua mãe sobre a importância de preservar a fazenda para os mais necessitados, de acordo com o que foi dito pelas irmãs Carmelitas no passado.

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