Os cientistas decidiram deslocar os animais devido à seca severa que atingiu a região do médio rio Solimões, resultando no encolhimento agressivo do lago Tefé e na transformação da paisagem. Isso fez com que a água da enseada de Papucu atingisse uma temperatura de quase 40°C, levando à morte de mais de 140 botos.
Pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, sediado em Tefé, foram os responsáveis por investigar as causas das mortes e atuaram na coleta de amostras para análise. No entanto, a falta de recursos e a dificuldade em enviar as amostras para laboratórios em Manaus e São Paulo tornaram o processo mais desafiador. Além disso, a população local, que utiliza o lago para banho e recreação, também foi afetada pela mortandade dos botos.
Diante da emergência ambiental, o monitoramento dos botos passou a envolver o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), com apoio do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis). Uma solução provisória foi encontrada: os botos e tucuxis precisariam ser retirados da enseada de Papucu, onde a temperatura da água era elevada, devido à perspectiva de prolongamento da estiagem.
Para permitir a saída dos animais, estacas de madeira foram instaladas na boca da enseada, formando uma grade em formato de V. Uma rede foi utilizada para conduzir os botos até a saída da enseada, seguida de barulhos para impedir que retornassem. Apesar de uma primeira tentativa falha, a operação foi repetida e parte dos botos seguiu o curso desejado pelos pesquisadores, em busca de águas mais profundas e frias.
A retirada dos botos permitirá um melhor acesso aos animais, caso ocorra uma nova crise. A estimativa é que a enseada abrigasse de 20 a 30 animais, representando uma perda de 10% da população de botos e tucuxis do lago Tefé, que chega a 900 e 500 indivíduos, respectivamente.
No entanto, o futuro dos botos e tucuxis da Amazônia ainda é incerto. A seca e a estiagem prolongada são um desafio para a sobrevivência desses animais, que podem enfrentar dificuldades caso ocorram novas crises. A temperatura da água e as mudanças climáticas são fatores preocupantes para a população de botos e para a biodiversidade da região amazônica.