Desmoronamentos e secas extremas ameaçam comunidades ribeirinhas no rio Solimões e região amazônica

A casa de madeira onde Adriana da Silva, 30, Maria Rosenilda, 24, e mais 13 irmãos cresceram, na beira do rio Solimões, é agora um amontoado de estacas misturadas à lama de um barranco. O imóvel, que tinha sala, cozinha, quarto e banheiro, caiu com todos os pertences dentro, incluindo fogão, geladeira, televisão e dinheiro juntado com a venda de peixes pelo dono, Manoel da Silva, 56. A queda da casa ocorreu em 26 de setembro, após o barranco começar a se deslocar. Em menos de dez minutos, as crianças que viviam no local com Manoel conseguiram fugir para a casa de uma das filhas, que fica logo atrás.

A família, que é de indígenas ticunas e faz parte da chamada Barreira de Cima, está desolada com o ocorrido. Segundo as filhas de Manoel, nunca houve sinal de que a terra cairia, ao longo das décadas em que a casa existiu. Maria Rosenilda acredita que o pai deve reconstruir a casa, mas em um local diferente, onde a terra seja mais firme.

O desmoronamento da casa pode estar relacionado com a seca extrema na região. A estiagem, considerada mais severa do que a ocorrida em 2010, resultou no desaparecimento de igarapés, na conversão de trechos do rio Solimões em areia e no superaquecimento do lago Tefé, além de ter causado mortandade de botos e isolamento de comunidades, dificultando o acesso à água potável.

O fenômeno das terras caídas também está se espalhando por diferentes pontos no Amazonas. Quando os rios atingem níveis muito baixos, como ocorre durante uma seca extrema, há o risco de movimentação das margens em grande proporção, levando ao desmoronamento de barrancos.

Na vila em Beruri, parte das casas foi afetada pela queda do barranco, levando à morte de pelo menos duas pessoas. Em Itacoatiara, parte de um porto no rio Amazonas desabou devido a terras caídas. Em Iranduba, uma escola teve parte de sua estrutura arrastada pela queda de um barranco, enquanto em Manacapuru, um barranco desabou em cima de um barco.

De acordo com o secretário da Defesa Civil do Amazonas, Francisco Máximo, a situação é crítica em todo o estado devido à crise climática vivida atualmente. Na margem do rio Solimões, as irmãs ticunas tentam assimilar a perda da casa onde cresceram. A família vive da pesca e da plantação de banana e mandioca, e depende de um poço artesiano para o fornecimento de água. No entanto, elas questionam o futuro da região e esperam que o pai consiga reconstruir a casa novamente.

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