Procuradora-geral da República pede ao STF que considere desdobramentos do Recurso Extraordinário sobre demarcação de territórios quilombolas

A procuradora-geral da República, Elizeta Ramos, enviou um pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que os desdobramentos do Recurso Extraordinário que trata da demarcação de territórios quilombolas sejam considerados. Em sua manifestação à Corte, ela reforçou a posição do Ministério Público Federal (MPF) contra a tese do marco temporal, argumentando que essa posição também se aplica aos remanescentes de quilombos.

No documento enviado ao tribunal, Elizeta Ramos solicitou que o relator do processo, o ministro Edson Fachin, debata o assunto em plenário virtual e se posicione contra o marco temporal.

O Recurso Extraordinário em questão refere-se a uma ação que busca anular um processo de demarcação, no qual o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) identificou que uma propriedade rural estava em uma área quilombola.

Quando julgou o caso, a Justiça Federal de Mato Grosso do Sul utilizou como critério o marco temporal, que restringe o direito à terra, estabelecendo que ele só existe quando as comunidades já possuíam o território em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal.

No dia 21 de setembro, o STF considerou inconstitucional a tese do marco temporal, com um placar de 9 votos a 2. No entanto, o Senado Federal, ignorando tanto a decisão da Corte como os apelos do movimento indígena, aprovou em plenário, no último dia 27, o Projeto de Lei (PL) nº 2.903/2023, que aplicaria o marco temporal no caso de terras indígenas.

A votação no Senado registrou 43 votos favoráveis e 21 contrários à tese do marco temporal. O PL foi proposto pelo ex-deputado Homero Pereira (1955-2013) e relatado pelo senador Marcos Rogério (PL-RO). Para entrar em vigor, o projeto ainda depende da sanção da Presidência da República.

A atuação da procuradora-geral da República, Elizeta Ramos, ganha destaque ao pedir ao STF que a posição do MPF seja considerada no caso dos territórios quilombolas. Sua solicitação de debate em plenário virtual e oposição ao marco temporal evidenciam a preocupação em proteger os direitos das comunidades quilombolas e garantir a demarcação adequada de seus territórios.

Embora o STF tenha decidido pela inconstitucionalidade do marco temporal, o Senado Federal aprovou o projeto que aplicaria essa tese no caso das terras indígenas. Essa discordância entre os poderes legislativo e judiciário em relação a um tema tão relevante para as comunidades tradicionais evidencia a necessidade de um debate aprofundado sobre o assunto e uma definição clara e justa. A defesa de Elizeta Ramos em relação aos remanescentes de quilombos contribui para fortalecer essa discussão e buscar uma solução que respeite os direitos e a história dessas comunidades.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo