Construída em 1956, a casa de madeira de 139 m² está localizada em um terreno de 286 m². Ela representa um exemplo de Arquitetura Popular, um estilo comum em Santa Catarina no final do século 19 e meados do século 20. Esse tipo de construção valoriza soluções simples e usa materiais limitados, de acordo com a arquiteta Alessandra Devitte.
A arquitetura em madeira tem uma grande influência das culturas alemã, italiana e polonesa, que trouxeram novas técnicas e estilos de construção para a região. A abundância de madeira na área, especialmente entre os imigrantes alemães, contribuiu para a popularidade desse estilo arquitetônico.
Para Devitte, a demolição da casinha representa uma perda não apenas material, mas também histórica e cultural. “A preservação da arquitetura popular é crucial para manter a identidade cultural e histórica de uma comunidade. Ela reflete as tradições, os ofícios tradicionais, os valores e os modos de vida do povo”, destaca a arquiteta.
O pedido de demolição da casa foi feito em dezembro de 2022 e o alvará de demolição foi emitido em janeiro de 2023. A residência faz parte da Barra Sul de Balneário Camboriú, uma área que viu sua paisagem urbana se transformar nas últimas décadas, com a construção de inúmeros prédios altos.
A família que era proprietária do imóvel possivelmente negociou a casinha por um valor condizente com o metro quadrado mais caro do Brasil, que Balneário Camboriú ostenta atualmente. Um corretor local estima que o valor do imóvel possa chegar a R$ 18 milhões.
Balneário Camboriú é hoje a cidade brasileira com o metro quadrado mais caro do país, com um preço médio de R$ 12.335. Isso se deve à alta demanda de imóveis na cidade, que conta com segurança, boa localização e fácil acesso a praias, estradas e aeroportos.
No entanto, o crescimento exponencial da cidade gera preocupações em relação ao sombreamento das praias, falta de infraestrutura de água e esgoto, e trânsito. O alargamento da Praia Central, que foi de 25m para 75m, foi importante para a valorização da cidade, segundo especialistas.
O chamado “boom” imobiliário não se restringe a Balneário Camboriú. Outras cidades litorâneas de Santa Catarina, como Piçarras, Praia Brava e Itapema, também estão passando pelo mesmo processo de valorização imobiliária.
Apesar das críticas ao crescimento desordenado e ao alinhamento entre a gestão pública e o setor privado, a prefeitura de Balneário Camboriú defende a verticalização da cidade. Segundo a administração, as receitas provenientes do ramo imobiliário são importantes para a realização de empreendimentos e obras para a cidade.
Mesmo com as discussões em torno do modelo de urbanização da cidade e do impacto que isso traz, fica o aprendizado para outras cidades litorâneas da região. É necessário encontrar um equilíbrio entre o desenvolvimento urbano e a preservação da identidade cultural e histórica de uma comunidade.