No entanto, o documento não apresenta detalhes sobre a localização exata de cada cracolândia e nem sobre a dimensão desses locais. Quando questionado, o governo se recusou a fornecer essas informações para a Folha de S.Paulo, o que gera discórdia e falta de transparência sobre a situação.
Entre as cracolândias encontradas, destaca-se a que se instalou no bairro de Santa Ifigênia, no centro de São Paulo. Essa região se tornou um barril de pólvora, com ocorrência de mortes, roubos e protestos. Estima-se que cerca de mil dependentes químicos frequentem essa área.
O Plano Plurianual apresenta a intenção de reduzir gradualmente o número de cracolândias ao longo do mandato de Tarcísio de Freitas. A meta é chegar a 129 pontos de uso de drogas em 2024, 116 em 2025 e 104 em 2026. No último ano de gestão, 2027, é esperado que o próximo governador tenha em mãos o número de 94 cenas abertas de uso de drogas.
A Secretaria de Comunicação do governo declarou, em nota, que tem trabalhado ativamente para combater o tráfico de drogas e reduzir o número de cracolândias. Segundo o documento, as ações contra o uso de drogas em locais públicos devem ser conduzidas pelas secretarias de Desenvolvimento Social, Saúde, Segurança Pública e Casa Civil, com um orçamento de R$ 322 milhões ao longo de quatro anos.
No entanto, especialistas questionam se é possível uma redução significativa da quantidade de cracolândias. Para Clarice Madruga, pesquisadora da Unifesp e consultora técnica da SPDM, a principal dificuldade está em garantir que essas pessoas consigam se reinserir socialmente após o tratamento. Ela aponta a falta de políticas públicas de amparo social, como moradia e emprego, como um dos principais gargalos.
Outro objetivo mencionado pelo governo é a redução dos crimes no entorno das cracolândias. Atualmente, a taxa de roubos e furtos nessas áreas está em 685 por 100 mil habitantes. A meta é reduzir gradualmente essa taxa, chegando a 557 por 100 mil habitantes em 2028.
No entanto, Felippe Angeli, coordenador de advocacy do Justa, critica a falta de transparência no plano, especialmente em relação à localização das cenas e à metodologia adotada para a redução dos fluxos de usuários. Ele argumenta que o foco parece estar mais na segurança pública do que na saúde dos usuários.
Em resposta, a gestão de Tarcísio de Freitas afirma que possui um programa de recuperação e saída das ruas para os dependentes. Segundo o comunicado, são oferecidas abordagens individualizadas e tratamentos adequados, incluindo internação e orientação para casas e comunidades terapêuticas.
Ao longo deste ano, ações policiais resultaram na prisão de 344 traficantes e na apreensão de mais de 153 toneladas de drogas, causando um prejuízo de aproximadamente R$ 23 milhões ao tráfico.
No entanto, é importante ressaltar que especialistas apontam a necessidade de uma abordagem mais ampla, que inclua políticas públicas de amparo social e ações preventivas para combater a dependência química antes que as pessoas cheguem às cenas de uso de drogas. A torneira do problema continua aberta, e é preciso agir para oferecer uma solução sustentável aos dependentes químicos e reduzir as cenas abertas de uso de drogas em todo o estado.