A diversidade de expositores presentes na feira foi um reflexo do interesse cada vez maior pelo mercado de cânabis no Brasil. Grandes empresas do setor da maconha medicinal, que investem milhões em testes clínicos de seus produtos no país, dividiram espaço com marcas de seda e produtos voltados para o consumo adulto da cânabis. Porém, algumas empresas do campo terapêutico buscam se distanciar desse segmento em meio às mudanças regulatórias que estão ocorrendo no país.
Recentemente, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) concedeu um salvo-conduto para que pacientes não sofram sanções criminais pelo autocultivo de cânabis para extração de óleo com finalidade medicinal. No mesmo dia, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, apresentou uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para criminalizar posse e porte de qualquer droga, porém, com uma ressalva para o uso de substâncias com finalidade medicinal. Além disso, a Anvisa emitiu uma nota proibindo a importação de flores de cânabis para fins terapêuticos.
Diante dessas mudanças, empresários do setor avaliam que o mercado de cânabis no Brasil precisa de mais e melhores regulações, para que o país não fique para trás em um mercado que está em expansão pelo mundo. Atualmente, o uso medicinal da Cannabis é legal em quase 50 países, enquanto o uso adulto é legalizado e regulado em alguns países, como Canadá, Uruguai, Tailândia e partes dos EUA.
Na opinião de Luiz Borsato, gerente de operações da Milgrows, loja de sementes de maconha, a regulação do mercado de cânabis no Brasil é uma questão de tempo. Porém, ele ressalta que ainda não existe uma regulamentação para a aquisição de sementes no país e critica a falta de competência da Anvisa para tratar do tema, sugerindo que o Ministério da Agricultura seja responsável por regulamentar as sementes de cânabis.
Com corredores lotados de investidores, pacientes, empresários, advogados, curiosos e ativistas pró-cânabis, a ExpoCannabis Brasil também contou com a presença da Câmara de Comércio de Cânhamo Industrial do Paraguai e aceleradoras de projetos ligados à maconha do Uruguai. O evento entusiasmou Daiane Zappe, gerente de negócios da Revivid no Brasil, empresa que produz óleos de canabidiol (CBD). Segundo ela, é necessário avançar mais na regulamentação da cânabis no país, pois pessoas que sofrem com dor ou doenças graves não podem esperar mais. Zappe, que obteve autorização judicial em 2014 para importar um medicamento feito com maconha para o filho, acredita que a regulação anunciada pelo presidente do Senado pode ser um primeiro passo.
De acordo com a organização da feira, o mercado de cânabis no Brasil pode atingir um valor de mercado de R$ 26 bilhões, três anos após a regulamentação dos três usos da planta: medicinal, adulto e industrial. Deste total, R$ 8 bilhões poderiam ser recolhidos em impostos pelo governo. Atualmente, a Anvisa emite autorizações para a importação de produtos à base de cânabis para fins medicinais, mas ainda não há uma legislação nacional sobre o tema.