Camilo, que também foi vereador, deputado estadual e secretário-executivo da Polícia Militar na Secretaria da Segurança Pública, afirmou que tais suspeitas foram investigadas no passado e arquivadas pela Promotoria. Sobre a veracidade dos documentos, ele respondeu: “Não sei informar”.
Entre os documentos obtidos pela Folha, há um recibo de R$ 12 mil referente à suposta internação de um filho do então comandante-geral da PM em uma clínica para tratamento de dependentes químicos em Atibaia. O recibo é datado de 17 de novembro de 2011 e é acompanhado pela cópia de um cheque no mesmo valor destinado à Clínica Atibaia, emitido pela empresa Comercial das Províncias. A Comercial das Províncias é uma das empresas de fachada usadas no esquema montado por Adriano para fraudar licitações destinadas ao comando-geral da PM.
Adriano, que foi preso em 2017 e já foi condenado em duas ações, afirmou em entrevista à Folha em 2015 que todas as melhorias executadas na PM tinham ciência e autorização dos superiores. As suspeitas de que Camilo e outros oficiais receberam repasses de recursos de Adriano ganharam corpo em 2017, quando o ex-oficial tentou fazer um acordo de delação premiada.
Segundo o advogado de Adriano Filho, Oswaldo Duarte Filho, esses documentos confirmam que Camilo não só sabia do esquema de desvios no comando da PM como também usufruía dos recursos desviados. Estima-se que entre 2005 e 2012 o esquema na PM tenha envolvido cerca de R$ 200 milhões.
Camilo deixou o comando da PM em 2012 em meio a suspeitas de irregularidades em uma licitação de equipamentos de comunicação. O advogado de Adriano Filho afirma ainda ter provas do pagamento de valores a outros coronéis, como Orlando Eduardo Giraldi, atual presidente do Tribunal de Justiça Militar de São Paulo. Giraldi negou irregularidades e afirmou que o recibo apresentado já foi investigado pelo Ministério Público e arquivado.
As novas provas serão anexadas em ações judiciais movidas por Duarte Filho, que pretende demonstrar um suposto complô para que apenas Adriano seja condenado. O então major da reserva da PM Olímpio Gomes afirmou em 2015 que a estrutura de compras existente na corporação não poderia ser burlada por um único oficial, afirmando que é “impossível” que Adriano tenha perpetrado tudo isso sozinho.
Até agora, apenas Adriano foi condenado, mas as novas revelações prometem causar impacto nas investigações em andamento. O caso envolvendo o esquema de corrupção na Polícia Militar de São Paulo continua a surpreender e levanta questionamentos sobre a dimensão do problema e a extensão das conexões entre os envolvidos. Resta aguardar os desdobramentos dessa história para saber até onde ela pode chegar.