O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará um discurso no domingo, 10, no qual abordará os temas-chave que guiarão os trabalhos do Brasil no próximo ano. Lula tem como objetivo principal dar mais peso e representação internacional aos países em desenvolvimento.
A presidência rotativa do Brasil começará em 1° de dezembro e vai até novembro do ano que vem, quando acontecerá uma nova cúpula de líderes no Rio de Janeiro. No entanto, o Brasil assume a presidência do G-20 em meio à maior divisão interna do bloco, causada pela guerra na Ucrânia e pelas disputas econômicas e geopolíticas entre China e Estados Unidos.
É importante ressaltar que a cúpula em Nova Délhi ocorrerá sem a presença dos presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping. A falta de efetividade do G-20 na arena global pode render poucos benefícios práticos à diplomacia brasileira, de acordo com especialistas.
Analistas consultados pelo Estadão acreditam que Lula utilizará sua participação na cúpula para impulsionar a mesma agenda dos últimos meses, que tem recebido críticas dentro e fora do Brasil. Essa agenda é marcada pelo não alinhamento à guerra na Ucrânia e pelo questionamento do dólar como base do comércio internacional, o que é interpretado como um aceno ao protagonismo chinês.
Para Gunther Rudzit, professor de relações internacionais da ESPM-SP, Lula deve adotar um discurso semelhante ao da cúpula do Brics, quando se alinhou com russos e chineses. Ele deve abordar temas como o sistema financeiro e outras moedas, que têm sido discutidos desde o início de seu governo.
A agenda ambiental é outro ponto importante para a diplomacia brasileira, especialmente em relação às potências ocidentais, como Estados Unidos e Europa. A atenção dada ao tema agrada a esses países, e caso Lula queira reconstruir pontes com polos antagônicos do G-20, deveria reforçá-la.
Lula reconhece a importância da agenda ambiental para o Brasil, afirmando que isso faz com que o país se torne protagonista internacionalmente. Atualmente, o G-20 está dividido entre um bloco ocidental, composto por americanos e europeus, e um bloco emergente, com russos e chineses.
No entanto, analistas acreditam que a perda de protagonismo do G-20 tornará inócua a tentativa de Lula se colocar como líder global. Richard Rossow, diretor do departamento de Índia do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, destaca que a agenda ambiental é o principal tema sobre o qual o Brasil pode exercer protagonismo.
Lula também planeja lançar uma aliança global para a promoção do uso de biocombustíveis, juntamente com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Essa aliança tem como foco fomentar o mercado global de etanol e contribuir para a descarbonização das fontes de energia para transportes.
Em resumo, a presidência do Brasil no G-20 terá como ênfase a agenda social, o combate às desigualdades, as mudanças climáticas e a reforma dos órgãos de governança global. Com a divisão interna do bloco, a falta de efetividade do G-20 e o contexto geopolítico atual, é esperado que a diplomacia brasileira enfrente desafios para obter benefícios práticos.