Antologia ‘O Livro Negro dos Sentidos’ traz poesias e contos eróticos de autoras negras, quebrando estigmas e reivindicando o direito à própria sexualidade

A antologia “O Livro Negro dos Sentidos” (Mórula Editorial) reúne poesias e contos eróticos produzidos por mulheres negras de diversas origens e idades em todo o Brasil. Com 23 autoras, essa obra pretende mostrar a diversidade de abordagens da sexualidade feminina, que muitas vezes é associada apenas aos jovens.

Miriam Alves, uma das escritoras participantes, ressalta a importância de incluir mulheres de diferentes faixas etárias no livro, para questionar a ideia de que apenas os jovens têm o direito de explorar o prazer e a sexualidade. A antologia conta com autoras desde estudantes de graduação até doutoras, como a escritora Conceição Evaristo e a atriz Cássia Valle, e aborda os desejos por meio de contos e poemas divididos em cinco temas, um para cada sentido do corpo humano: toque, som, sabor, cheiro e olhar.

Rosane Jovelino, escritora baiana e autora quilombola, destaca a importância de sua participação na coletânea, já que historicamente as mulheres negras foram estereotipadas e objetificadas. Para ela, os estereótipos negam a sensualidade, o feminino e o erótico das mulheres negras.

A coletânea inclui autoras que já estavam acostumadas a escrever produções eróticas e outras que nunca haviam explorado esse gênero. Miriam Alves, que possui uma carreira de 40 anos transitando entre diferentes gêneros textuais, afirma que a sexualidade sempre esteve presente em seus textos de forma natural.

Essa diversidade de abordagens sobre a sexualidade feminina oferece o desafio de evitar a fetichização, o machismo e os preconceitos em geral. No entanto, o objetivo do livro é mostrar a retomada do domínio dos próprios desejos, que por muito tempo foram desrespeitados.

A antologia busca transmitir a mensagem de que as mulheres têm o direito de explorar sua própria sexualidade, sem medo de serem julgadas. O livro inclui textos que vão desde os mais sugestivos e subliminares até os mais explícitos. As autoras destacam que a visão conservadora da Igreja Católica ao longo dos séculos contribuiu para a repressão sexual feminina, mas ressaltam que a visão do candomblé é completamente diferente, valorizando o sexo com tesão, amor e paixão.

A ideia para o livro surgiu quando Angélica Ferrarez e Fabiana Pereira assistiram a escritora Jurema Araújo declamar um poema erótico em um evento no Rio de Janeiro. A partir daí, começaram a curadoria das autoras participantes e Jurema selecionou os textos.

Seguindo a ordem de desenvolvimento dos sentidos no corpo humano, a sequência dos temas no livro começa com as “preliminares” e termina com o capítulo “Todos os Sentidos”. Essa organização pretende refletir a forma como os sentidos são desenvolvidos desde o útero materno.

Com “O Livro Negro dos Sentidos”, as autoras buscam quebrar estigmas e reafirmar o direito das mulheres de vivenciarem sua sexualidade de forma plena e livre.

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