O suspeito responsável pela execução foi detido em Araçás, cidade localizada a 105 km de Salvador. Já os outros dois foram capturados em Simões Filho, região metropolitana da capital baiana.
As armas apreendidas foram submetidas a análise pela Polícia Técnica da Bahia, que constatou que são compatíveis com os projéteis encontrados no local do crime. O secretário de Segurança Pública não revelou os detalhes sobre as possíveis motivações do assassinato, alegando que a investigação corre em sigilo de Justiça e que qualquer informação divulgada poderia atrapalhar as apurações.
Bernadete Pacífico foi brutalmente assassinada com 22 tiros em sua casa, que servia como sede da associação de quilombolas em Simões Filho, em 17 de agosto. Ela era coordenadora nacional da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq) e liderava o Quilombo Pitanga dos Palmares na mesma cidade. Ao longo de anos, ela denunciava a violência sofrida pela população quilombola e a tentativa de usurpação de suas terras.
Após o assassinato de seu filho Flávio Gabriel Pacífico dos Santos em 2017, Bernadete intensificou sua luta contra os ataques aos terreiros e o assassinato de líderes religiosos de matriz africana. Conhecido como Binho do Quilombo, Flávio era um dos líderes quilombolas mais respeitados da Bahia.
O filho de Mãe Bernadete, Jurandir Wellington Pacífico, afirmou que ela vinha recebendo ameaças há pelo menos seis anos e acredita que tenha sido vítima de um crime encomendado. No dia do crime, Bernadete estava com seus netos quando dois homens chegaram usando capacetes e abordaram a família. Enquanto os netos foram trancados em um quarto, Bernadete foi brutalmente assassinada com 14 tiros.
Apesar de já ter recebido ameaças e de fazer parte de um programa de proteção a defensores de direitos humanos do governo estadual, a segurança de Mãe Bernadete não contava com vigilância constante. Após o assassinato, a Polícia Federal na Bahia instaurou inquérito para investigar o caso de Bernadete e o caso de Binho também está sendo apurado.
Bernadete foi secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho na gestão do ex-prefeito Eduardo Alencar, irmão do senador Otto Alencar. Em julho, ela participou de um encontro com a presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, na comunidade Quingoma, em Lauro de Freitas, onde afirmou ser alvo de ameaças por parte de fazendeiros.
Além de ser porta-voz e representante das demandas políticas do quilombo, Bernadete desempenhava um papel direto e pessoal de cuidado com a comunidade. O assassinato da líder quilombola gerou grande medo entre os moradores da comunidade de Pitanga dos Palmares, que vivem do artesanato, agricultura de subsistência e criação de animais em uma região relativamente isolada do centro urbano da cidade, onde há cerca de 300 famílias.
Embora a demarcação da área como território de descendentes de quilombolas esteja em fase de finalização no governo federal, o processo está parado desde 2017.