A corrida para o transplante começa assim que há suspeita de que um paciente internado tenha perdido a atividade cerebral, o que é conhecido como morte encefálica. Porém, mesmo com a confirmação desse evento neurológico, os órgãos precisam estar funcionando adequadamente para que o transplante possa ser realizado. Um protocolo legal é iniciado, seguido pela avaliação e confirmação por parte de uma equipe de captação de órgãos, que são grupos ligados a instituições de saúde e identificados como Organizações de Procura de Órgãos (OPOs). Essas equipes têm atuação regional, uma vez que a regulação das doações é coordenada pelos governos estaduais.
A autorização para a doação é solicitada à família do doador, que é a responsável por tomar essa decisão no Brasil. Com o aval da família, uma central estadual de transplantes avalia quais pacientes aptos na fila de transplantes do estado. Vale ressaltar que a fila é única e controlada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) tanto para a rede pública quanto para a particular. Antes do tempo de inscrição, a gravidade do paciente garante prioridade a alguns casos. Dentro da fila principal, existe uma fila secundária organizada pelo tipo sanguíneo dos pacientes, levando em consideração também critérios como peso, altura e compatibilidade imunológica.
A idade do doador também é um fator relevante. No Brasil, doadores acima de 45 anos geralmente são rejeitados, devido à necessidade de um cateterismo para identificar doença coronária, o que gera falta de recursos. Além disso, o alto número de mortes violentas de jovens, principalmente em acidentes de motocicleta ou baleados, aumenta a disponibilidade de potenciais doadores jovens. Em casos de incompatibilidade imunológica, o órgão é passado para o próximo paciente da fila que seja compatível. Quaisquer decisões em relação à fila de transplantes são puramente técnicas, segundo Biselli.
Equipes de cirurgiões se deslocam para onde o doador está para realizar a retirada do coração, que tem prioridade, e também a captação de outros órgãos. O coração é retirado enquanto ainda está batendo e colocado em uma solução de preservação em um saco plástico estéril. Em seguida, é colocado em uma caixa térmica com gelo, com o objetivo de manter o órgão minimamente ativo durante o transporte. O prazo considerado adequado entre a retirada do coração e a implantação no receptor é de três horas e meia. Ambulâncias, helicópteros ou aviões podem ser utilizados no transporte, dependendo da distância e disponibilidade. O transporte aéreo ocorre quando doador e receptor estão distantes, podendo ser necessário um voo para atender alguém em outra região do país. Nesse ponto, a condição financeira da família do paciente pode fazer diferença, visto que o transporte aéreo depende da disponibilidade de aeronaves da Força Aérea Brasileira ou da Polícia Militar, por exemplo. Pacientes que têm condições de custear voos podem utilizar aeronaves particulares.
Enquanto o coração é retirado do doador, o receptor começa a ser preparado para receber o órgão. No centro cirúrgico, o peito do receptor é aberto para a retirada do coração doente. Durante esse processo, o paciente é mantido vivo por uma máquina de circulação extracorpórea, que realiza a circulação do sangue, uma técnica comum em cirurgias cardíacas. Com o novo coração disponível, cada vaso é suturado de forma anatômica, buscando o melhor ajuste possível para reconstruir o sistema do órgão como era originalmente. Após a sutura dos vasos, o sangue do receptor começa a entrar no coração novo, “lavando” a solução de preservação e aquecendo o órgão. Com o sangue perfundindo novamente o coração, o órgão começa a ter atividade elétrica e volta a bater. A circulação extracorpórea não é mais necessária, podendo haver a necessidade de um pequeno choque elétrico para regular o ritmo do coração. Em alguns minutos, é esperado que o coração esteja batendo normalmente.
Após o transplante, o pós-operatório é semelhante a qualquer cirurgia cardíaca em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O paciente geralmente é extubado em 48 horas após o procedimento. A imunossupressão será necessária por toda a vida do paciente para evitar a rejeição do coração, já que o órgão é considerado um tecido que não pertence ao corpo. Esses medicamentos têm o objetivo de inibir o sistema imunológico. À medida que o tempo passa, há uma tendência de redução dos medicamentos, sendo que há casos de pacientes com sobrevida de duas décadas com doses mínimas de medicação imunossupressora. Os primeiros dias após o transplante são os mais críticos, especialmente as primeiras 48 horas, seguidas pelos primeiros 30 dias. Após o primeiro ano, espera-se que o paciente viva por mais de 12 ou 13 anos.
O transplante de coração é um procedimento que exige uma série de etapas, desde a identificação do potencial doador até a cirurgia de implantação do novo órgão. A lista de transplantes é única e controlada pelo SUS, levando em consideração a gravidade do paciente e outros critérios, como compatibilidade imunológica. O transporte do órgão pode ser feito por ambulância, helicóptero ou avião, dependendo da distância e disponibilidade. Durante a cirurgia, o receptor é mantido vivo por uma máquina de circulação extracorpórea e, após a sutura dos vasos, o novo coração começa a bater novamente. O pós-operatório requer cuidados intensivos e a necessidade de medicamentos imunossupressores por toda a vida do paciente.