O hip hop é uma cultura que nasceu nas periferias e se baseia no uso da linguagem, seja oral, escrita ou visual, para abordar de forma crítica questões sociais, culturais e políticas. Roberta Estrela D’alva, atriz-MC e slammer, destaca em seu livro “Teatro Hip Hop” que a força política do hip hop pode ser encontrada em seu nascimento, nas festas de rua, como um ato de ousadia ao retomar espaços públicos.
Dentro do hip hop, uma das manifestações mais importantes é o rap, que permite a expressão de raiva, sentimentos e angústias. É uma forma de unir poesia e ritmo para quem ouve, além de denunciar as mazelas da sociedade.
Apesar de enfrentarem o machismo presente na cena do rap, as mulheres têm ocupado espaço e entregado produções incríveis. Para registrar a potência das trajetórias das rappers da cena atual, foi realizada uma entrevista com seis mulheres em início de carreira: Cristal, Boombeat, Iza Sabino, Ajuliacosta, Kaê Guajajara e Mc Luanna.
Essas artistas encontraram inspiração dentro de suas casas, consumindo rap, trap, samba, pagode e outros ritmos nacionais que influenciaram suas produções atuais. Apesar dos obstáculos enfrentados em um ambiente machista, é no rap que elas encontram espaço para serem elas mesmas e cantarem de uma forma que impacta outras pessoas.
Elas utilizam suas narrativas para questionar a realidade em que estão inseridas e denunciar as opressões de gênero. Por meio de suas músicas, letras como “Agora cês vão ter que me engolir! / Já que pra hypar no rap basta você ter um pingulin” de Iza Sabino e “Não quero ser chave mestra, eu quero arrombar / Invadir essa porra, render esses cara / Eu sou boa demais pra ser ignorada” das gêmeas Tasha & Tracie, evidenciam a força das mulheres na cena.
Além disso, elas enfrentam as atitudes machistas de forma coletiva. Um exemplo disso é o clipe e a música “SET AJC” de Ajuliacosta, que reuniu outras rappers para rimar e incluiu profissionais mulheres em todas as etapas de produção.
É importante ressaltar que as mulheres do rap não estão começando agora. Elas são a continuidade daquelas que tiveram coragem de rimar durante a velha escola do rap nacional, como Nega Gizza, Negra Li, Dina Di, Sharylaine e muitas outras.
Respeitar as mulheres do rap é também respeitar o público feminino desse gênero. É sobre ter a possibilidade de ir a um festival de rap com várias mulheres no line-up, vibrar ouvindo rimas que só poderiam ser escritas por elas. A cultura hip hop é guiada por lutas contra opressões, então não podemos aceitar atitudes machistas dentro desse espaço.
As rappers estão cada vez mais se destacando na cena, mas têm ambições maiores. Através do rap, elas se tornam fontes de inspiração para as que virão e continuidade das que vieram antes. É fundamental que os fãs de rap ouçam as minas, pois elas têm muito a dizer. Devemos repudiar rimas machistas e valorizar o talento e o protagonismo das mulheres no rap.