Entidade denuncia: mais de 30 líderes quilombolas foram brutalmente assassinados em apenas uma década. Uma triste realidade que clama por justiça.

O assassinato de Bernadete Pacífico, de 72 anos, conhecida como Mãe Bernadete, na noite de quinta-feira (17), não é um caso isolado. Segundo a Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), pelo menos 30 líderes quilombolas foram mortos nos últimos dez anos. A entidade destaca que os casos estão relacionados à disputa fundiária e ainda estão sem solução. Os estados com mais registros são Bahia, com 11 casos, Maranhão, com 8 casos, e Pará, com 4 casos.

O assassinato de Mãe Bernadete ocorreu na Bahia, dentro do terreiro de candomblé que ela comandava na cidade de Simões Filho, na região metropolitana de Salvador. Segundo a Secretaria da Segurança Pública da Bahia, dois homens usando capacetes entraram na propriedade e efetuaram 14 tiros.

Biko Rodrigues, coordenador da Conaq, ressalta a gravidade da situação: “O caso de Mãe Bernadete se junta a esses assassinatos que estão sem resolução nenhuma. Queremos cobrar do Estado brasileiro uma posição. Não dá para o Sistema de Justiça ignorar as violências que acontecem nos territórios quilombolas”.

Rodrigues destaca também a disputa intensa por terra vivida por negros e negras há mais de 400 anos, afirmando que o direito à terra foi negado a eles, fruto do racismo fundiário existente no país.

A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública da Bahia para obter informações sobre o número de quilombolas mortos no período indicado pela Conaq e sobre a adoção de ações de prevenção ao conflito fundiário, mas não obteve resposta.

A secretaria apenas informou, por meio de nota, que representantes do governo federal e estadual se reuniram para discutir medidas conjuntas a serem tomadas diante da morte de Mãe Bernadete, incluindo atualização da investigação, apoio à comunidade e reforço da segurança na região onde ocorreu o crime.

A Folha também entrou em contato com o Ministério da Justiça, mas não obteve retorno.

É importante ressaltar que Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, filho de Mãe Bernadete e líder da comunidade, foi assassinado há seis anos. No mês passado, Mãe Bernadete denunciou ameaças de morte que vinha sofrendo de fazendeiros. O quilombo Pitanga dos Palmares, onde ela vivia, está em processo de titulação e é alvo de disputas territoriais e imobiliárias.

Jurandir Wellington Pacífico, outro filho de Bernadete Pacífico, afirmou que sua mãe recebia ameaças há pelo menos seis anos. Ele acredita que o crime foi encomendado e teme ser o próximo alvo.

O projeto Quilombos do Brasil é uma parceria com a Fundação Ford.

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