Esse poste é responsável por fornecer energia à torre, porém, ao invés de ser subterrâneo como é comum em muitos lugares, os cabos de energia ficam expostos e atravessam a pista, criando uma visão desagradável para os moradores e transeuntes da região. Esses cabos são os primeiros a cobrir a L2 Sul, uma avenida conhecida por sua beleza e pureza.
Pode-se argumentar que esse tipo de situação é comum em muitas cidades brasileiras, mas a realidade é que a L2 Sul era diferente. Desde sua construção em 1960, a avenida mantinha uma serenidade e simplicidade, com uma vista panorâmica do céu azul. Agora, esse cenário foi prejudicado pela instalação desses cabos.
Por trás dessa decisão questionável está uma empresa de telefonia, que é bastante lucrativa e detém a torre de celular, e uma empresa distribuidora de energia, que obtém grandes faturamentos. Ambas estão focadas em suas receitas e lucros, sem se importar com os aspectos estéticos da cidade. Enquanto os acionistas dessas empresas desfrutam dos lucros em bairros chiques de cidades cosmopolitas no exterior, os moradores de Brasília são obrigados a conviver com essa visão desagradável.
Falta carinho e respeito com a cidade. A ganância prevalece sobre a beleza e a tristeza vai se infiltrando aos poucos em Brasília. Rubem Braga, conhecido como o mestre da crônica, sempre encontrava poesia até nas coisas mais simples e insignificantes. Eu me inspiro nele para relatar essa situação e trazer um pouco de esperança em meio à tristeza.
Para aqueles que buscavam uma reportagem grandiosa e impactante, sinto informar que esta coluna não atenderá suas expectativas. Aqui, me apego ao pequeno, ao cotidiano e encontro nesses detalhes uma fonte de descobertas. Assim como Braga, acredito na capacidade de transformar o aparentemente insignificante em algo interessante e inspirador.
É nos mínimos detalhes do meu dia a dia que eu vivo e é nas redondezas de minha casa que as coisas acontecem. É nas sombras das árvores que conheço e quase dou apelidos carinhosos durante minhas caminhadas. É nas revoada de pássaros e no canto das cigarras que encontro encantamento na natureza.
A instalação desses cabos nos céus de Brasília pode parecer um detalhe trivial, mas é uma demonstração da falta de cuidado e respeito pela cidade. A ganância insidiosa sempre prevalece e a beleza, que é delicada, vai sendo desfigurada aos poucos. A tristeza vem aos pouquinhos, mas ainda há esperança de que possamos reverter essa situação e recuperar a pureza e a serenidade que Brasília um dia teve.