Entretanto, essa campanha publicitária contradiz o CEO do banco, Mario Leão, que, para investidores, defendeu menos parcelas nas compras feitas no cartão sem juros. Segundo ele, a limitação em até 12 vezes é uma matemática que não funciona, argumentando que na maioria das transações, os pagamentos ocorrem em quatro ou seis vezes.
A campanha do Santander na Black Friday será usada por representantes do varejo e das empresas de maquininhas na reunião do Banco Central, que discute restrições ao parcelamento sem juros. De acordo com esse grupo, o anúncio é uma prova de que os bancos têm condições de controlar o risco das operações nos cartões de crédito sem impor restrições à quantidade de parcelas para todo o mercado.
Por semanas, o Banco Central tem tentado chegar a um acordo em torno da proposta de parcelamento em até 12 vezes em um primeiro momento, chegando gradualmente a seis parcelas, no máximo, como forma de reduzir os juros elevados no cartão de crédito.
Os bancos afirmam que, com o endividamento das famílias, os devedores entram no rotativo do cartão, que cobra juros de, em média, 445% ao ano. Eles alegam que isso alimenta um círculo vicioso, que faz aumentar ainda mais os juros nessa modalidade de crédito.
No entanto, a Abranet, Associação Brasileira de Internet, que representa 10% dos cartões emitidos no país, discorda e diz que dados do Banco Central não mostram o parcelado sem juros contribuindo com o aumento dos juros ou com o endividamento das famílias.
Recentemente, a lei do rotativo do cartão de crédito sancionada pelo presidente Lula limitou os juros a, no máximo, o valor da dívida. Determinou ainda que o CMN (Conselho Monetário Nacional) defina como será a autorregulação em até três meses.
Para pequenos varejistas e empresas de pagamentos, o parcelado sem juros é uma importante ferramenta de vendas e qualquer tipo de restrição causará impactos negativos no setor e na economia.
A discussão revela uma tentativa dos bancos de restringirem a competição com as maquininhas no mercado de crédito, segundo a Abranet. A associação apresentou dados do próprio BC mostrando que o perfil de quem compra no parcelado não se alterou nos últimos anos e afirmou que não se verificou relação entre o aumento da inadimplência com o parcelamento em mais vezes.
A Abranet considera que o problema reside na emissão de um número recorde de cartões de crédito nos últimos anos, o que sinaliza para uma falta de rigor na concessão do crédito. A Abrasel, Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, concorda que a inadimplência no cartão de crédito e os juros elevados no rotativo não se explicam pelo número de parcelas.
Recentemente, diretores do BC afirmaram que a autarquia tem mandato para modificar qualquer produto financeiro do mercado, independente de lei. No Congresso, a Frente Parlamentar de Comércio já sinaliza reações contrárias, caso as regras definidas pelo CMN restrinjam demais o parcelado sem juros.
Procurado, o Santander não respondeu até a publicação desta reportagem.
Diante de um cenário complexo e com diferentes interesses em jogo, a discussão sobre as restrições ao parcelamento sem juros promete continuar aquecida nos próximos dias.